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domingo, 6 de setembro de 2015

CONFLITOS RELIGIOSOS ENTRE CRISTÃOS

A história religiosa do Ulster

Separada da República da Irlanda em 1922, o Ulster (como também é conhecida a Irlanda do Norte) era predominantemente protestante e fiel as ordens da coroa britânica, preferindo integrar a união, juntamente com a Escócia e o País de Gales.
Até o fim dos anos 60, eram visíveis os atos de segregação e preconceito entre protestantes e católicos nos limites do Ulster. Católicos eram exclusos de melhores oportunidades de emprego, além de serem colocados em uma situação de quase marginalidade, em bairros insalubres e com péssimas condições de vida.
Em meados de 1968, grupos de católicos começam a organizar as primeiras manifestações pacifistas reivindicando direitos civis e maior representatividade e oportunidades no país. Passeatas que, de maneira que evoluíam, entravam em choque violento contra grupos de protestantes radicais. E tudo com a total conivência da Polícia Real do Ulster, a RUC.

Milhares de católicos vão as ruas em 1972. Era um domingo, tragicamente marcado a sangue. 

A situação, que já era caótica, se tornou incontrolável com o passar dos anos. Conflitos e batalhas campais se intensificavam nos arredores das principais cidades do país, como Derry e a capital, Belfast. 
Em todos os lugares era visível o clima de tensão, e apesar da presença do exército britânico, que desde 1969 protegia os bairros católicos como o Bogside, em Derry (Londonderry), as tensões pioravam, sobretudo nas tradicionais e provocativas paradas dos orangistas e unionistas radicais nos feriados do país.

DOMINGO SANGRENTO

O Domingo Sangrento cantado pela banda U2 (Sunday Bloody Sunday 1972, uma manhã de domingo na cidade de Derry.
Devido ao Domingo Sangrento outra manifestação católica que ia as ruas amparada pelo então mais do que nunca ativo Exército Republicano Irlandês, o IRA.
O objetivo da passeata seria a prefeitura da cidade e o grupo partia do Bogside. No entanto, o grupo de mais de três mil pessoas foi contido violentamente pelo exército britânico. Foi uma ação totalmente desastrosa que ceifou no local a vida de 13 jovens e deixou outros 26 feridos gravemente. 

Dentre os conflitos entre os dois lados, foi o maior e mais marcante dentro da Irlanda do Norte, que somadas todas as “batalhas campais” registradas, registram mais de 4 mil mortos.

Depois do Domingo Sangrento, o aumento dos confrontos chegou a ser considerado uma espécie de “guerra civil” (Abril)

A reação ao “Domingo Sangrento” foi imediata. A embaixada britânica em Dublin, na Irlanda, foi incendiada por manifestantes. Na Câmara dos Comuns, o pronunciamento do então Ministro do Interior, Reginald Maudling, foi bruscamente interrompido no acesso de revolta da deputada católica irlandesa Bernardette Devlin, que desferiu socos e arranhões contra o político inglês.

 Nos anos anteriores a separação das duas religiões se tornara cada vez mais intensa por conta do radicalismo e intransigência de ambos os lados.
Somam-se também as atividades cada vez mais constantes das forças paramilitares de ambos os lados
Como o IRA e os principais movimentos extremistas protestantes  que almejam vingar os mortos com um número cada vez maior de atentados, tanto no Ulster quanto na própria Inglaterra.
Em 1998, os governos britânico e irlandês assinaram o Acordo de Belfast, que previa nos principais pontos negociados temas como o desmantelamento de facções paramilitares, eleições livres, autonomia para a Irlanda do Norte e igualdade de direitos.

Militantes do IRA entre as ruelas de Belfast. Atuação do grupo foi encerrada em 2005.  


SEMPRE OS INOCENTES

A Irlanda do Norte viveu noites de violência em 2001, depois que crianças católicas tiveram de enfrentar ataques de protestantes para chegar à escola. 

Em setembro de 2001 dezenas de meninas católicas da Irlanda do Norte foram escoltadas à escola cercadas por um cordão de isolamento, por dias consecutivos, por causa das pedras e palavrões lançados contra elas.

Meninas entre 05 e 06 anos forma ofendidas com palavras de baixo escalão como “Putas” e “porcas republicanas” voltando das salas de aula as meninas ficaram em prantos por devido as ofensas de grupos como a “mão vermelha” ( protestante) e seus braços como a Ulster Freedon Fighter e  a Ulster Defence Association, que no mesmo ano de 2001 assassinou duas pessoas por serem católicos.

"Fiquei com muito medo", disse Roisin, de seis anos. Para chegar à escola primária Santa Cruz, a criança passou por multidões iradas de protestantes que a chamaram de "bastarda" e "escória da Terra". 
A escola primária tem cerca de 200 alunas.

A instituição foi construída em uma área originalmente mista de Belfast, mas desde então a população se tornou majoritariamente protestante. O início do período letivo detonou as manifestações. "Foi uma experiência horrível, deu muito medo andar por aqui hoje", afirmou Denise Benson, levando sua filha de dez anos à escola. "Foi um pesadelo.'"


Para evitar a confrontação, vários pais usaram um caminho alternativo para chegar à escola, usando uma entrada dos fundos.  


Esse tipo de violência tinha se tornado raro desde o acordo da Sexta-Feira Santa, em 1998. Os principais grupos guerrilheiros da ilha aceitaram se desarmar, mas disputas políticas mantêm a situação tensa. Os ânimos pioraram quando as pedras foram substituídas por bombas de gasolina, tijolos e garrafas, disse a polícia.

Houve tumultos durante a noite na cidade, e um grupo radical protestante ameaçou agredir pais católicos que se aproximassem da escola. "Levei isso muito a sério, é uma razão para não passar por aqui", disse Ann, mãe de uma aluna de oito anos.

Revoltas se desencadearam na região de Ardoyne, em Belfast, o cenário dos protestos.
A polícia e o Exército foram chamados com veículos pesados para criar um corredor dentro de uma área protestante, onde as meninas católicas poderiam passar. Foi uma cena que lembrou os conflitos ocorridos nos Estados Unidos na década de 1950, quando surgiram as primeiras escolas mistas para brancos e negros. 


Um Apartheid religioso


Apesar das escolas mistas terem sido criadas em 1989 na Irlanda do Norte as crianças protestantes ainda preferem frequentar escolas de suas comunidades e as famílias católicas optam pelo mesmo. A separação entre os cristãos daquele país já gerou muitas guerras e muitas mortes, talvez por isso a convivência ainda não foi estabelecida por completo.

Na escola primária católica da cidade de Derry “Star of the Sea”, voltada para meninas, há 286 crianças entre 8 e 9 anos, nenhuma delas é protestante, o que confirma essa tese de que a separação histórica ainda não acabou.




Cenas de conflitos religiosos recentes no Ulster.

O primeiro-ministro da época, Peter Robinson, diz que é difícil construir um país tendo que educar as crianças separadamente. “Dadas nossas divisões históricas, penso que será difícil construir um país unido se continuarmos a educar nossas jovens crianças separadamente”, afirmou ele em abril de 2011.

MAIS UMA VEZ MUROS
Houve uma divisão física dos bairros católicos e protestantes nas cidades da Irlanda do Norte, sobretudo em Belfast, a capital. Grandes muralhas separam na cidade bairros das duas religiões. Portões controlam a entrada de pessoas para os dois lados na parte da noite. Não há linhas de ônibus que liguem bairros católicos a protestantes e apenas o centro da capital norte-irlandesa é considerada uma “zona mista”.

Os murais nos bairros de Derry e Belfast.


Pelas esquinas de ambas as comunidades, as respostas são evasivas e curtas. Moradores católicos e protestantes consideram os muros um simples “fator de segurança” e evitam prolongar o assunto. Trafegar pelas ruas de Belfast e de outras cidades do Ulster é como voltar ao tempo do muro de Berlim. Com a diferença em que os dois lados, ao contrário da “saudade” alemã, ainda tem um longo caminho para entender o significado da palavra “tolerância”. 

Os murais nas paredes de casas e nos muros viraram uma espécie de “marca registrada” de Belfast, no entanto, as mensagens de cunho político de ambos os lados não nega, ainda há um longo caminho para a paz e o respeito.

Muros de Belfast, a capital, que separam católicos e protestantes. Previsão de retirada das barreiras feita para 2023. (Gospel Atualidades)