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sábado, 30 de maio de 2015

REVOLUÇÃO FEDERALISTA DE 1893 - VILA DE SANTA TEREZA DE CAXIAS DO SUL - PARTE 01



Introdução



Vila de Santa Tereza de Caxias em !876.


Em 20 de junho de 1890, por ato do governo estadual, o então distrito de São Sebastião do Caí foi emancipado, ou seja, tornou-se município e passou a denominar-se Vila de Santa Tereza de Caxias na época do conflito de 1893. Ainda em 1890, em 06 de novembro, tornar-se-ia Comarca Judicial. Dessa forma, o Termo de Santa Tereza de Caxias ficaria, então, dividido em três distritos: a sede na Vila de Santa Tereza de Caxias, o distrito de Nova Trento e o de Nova Milano.

 Vila de Santa Teresa de Caxias do Sul, assim se chamava a atual cidade de Caxias do Sul situada na serra gaúcha moderno e importante pólo metal mecânico do Estado do Rio grande do Sul.  Fundada por colonos em grande parte oriundos da Itália no final do século XIX, de tradições firmes, mantendo vivas sua história e cultura. 

Aqui falaremos de sua participação num dos mais sangrentos combates do século XIX e da maior guerra civil que o Brasil já conheceu em sua história, bem como as causa e consequências desta para a região o Estado e o Pais num futuro não muito distante dos fatos aqui citados. 


Primeira Parte.

A NARRATIVA DO CONFLITO









Tropas Legalistas cena parcial da fotografia


Em uma tarde chuvosa no final do mês de julho, um batalhão a cavalo seguia por uma picada que costeava uma cadeia de montanhas! A chuva era caudalosa e o vento frio fazia encharcar o pala de lã, fazendo-o gotejar pela cela de palha e pelegos indo parar nos calcanhares das botas de couro já muito batidas. O grupo mal consegue enxergar a beira do despenhadeiro que faz limite com a picada, mas como alguns residem a anos na região serrana sabem como se portar nestas condições e guiar os demais. 

















Cavalarianos na Serra 


Cada passo era calculado, além das dificuldades geográficas da região os guerreiros estavam em alerta, já fazia um ano que havia escaramuças contra os rebeldes por todo o Rio grande, e sabiam sobre grupos armados que os esperam na região dos campos de cima da serra. Procuravam uma facilidade topográfica para montar acampamento, os cavalos já estavam cansados e tudo o que a gauchada tinha para comer era um pouco de charque e salame, e para dar força e coragem, a velha e boa cana. Estavam acostumados com a rispidez da região, mas assim mesmo foram autorizados pelo governo do Estado a recolher os viveres, animais e utensílios que fossem necessários durante a marcha, dos moradores já destituídos dos mesmos pela costumeira geada e por vezes neve da região, mas também pelo vandalismo federalista e por outros batalhões que passaram no outono. A fome por vezes não era opção do vivente naquele período.


















Cena parcial de uma Pintura estilizada sobre os combatentes. 


Em pleno inverno, a garoa e o minuano batendo pelos flancos ensopando a aba do chapéu, ascender fogo estava fora de questão, quanto mais tomar o mate para se aquecer, e a noite estava caindo bem rápido, devido à época e o tempo fechado. O caminho já bem acidentado normalmente, estava completamente embarrado e se um cavalo prendesse a pata num destes atoleiros poderia levar perigo, para não dizer fatalidade, tanto para montador e montaria. Os cavalos devido a vários dias de marcha estavam com os cascos machucados com ferraduras avariadas ou já sem as mesmas, bem como machucados pelo abdômen pelo peso e fricção da sela. Devido a marcha forçada, por vezes o peão tinha de descer da montaria e caminhar guiando seu pingo pela trilha assim ensopando as botas e criando feridas no tornozelo, sola e dedos dos pés.

























Vila de Santa Teresa de Caxias do Sul em !889.
  
O grupo estava bem armado, alguns treinados na capital do estado, outros recrutados junto a moradores aptos para combate na própria região. Todos com o intuito de proteger as colônias de imigrantes como a vila italiana de Santa Tereza, de onde veio o pedido de auxilio inicial. Três batalhões sob comando do coronel Antônio Carlos Chachá Pereira haviam se aquartelaram no centro desta vila nos meses anteriores, para posteriormente mas partiram para um suposto encontro de Gumercindo Saraiva que iria para Vacaria mas que acabou indo para Santa Catarina e não para Porto Alegre, e assim passando pela Vila de Santa Tereza, como era previsto pela inteligência militar.

















Tropas Federalistas

Dois grupos armados compostos de simpatizantes federalistas, milicianos e oportunistas por saques, usaram da guerra civil que assolava o Estado como pretexto, para se aproveitarem do pequeno contingente deixado na vila, e a haviam invadido no final de Junho de 1894. Estes grupos armados causaram caos nessa região por cerca de 15 horas, além de assassinatos e roubos, para depois seguirem para a região norte do Rio Grande, talvez com o intuito de se somar as tropas do caudilho que vinha do Uruguai, Gumercindo Saraiva, com cerca de 1200 homens entre os quais 400 cavalarianos. 

Os rios se tornam caudalosos na época, ficando difícil de vadear e por vezes obrigando os soldados do batalhão da então recém fundada Brigada Militar a terem de contornar as montanhas da região. O frio se intensifica a cada dia que se passa, pois estavam no auge do inverno e a mata extremamente fechada dificultava a marcha, algo bem diferente para quem entre os combatentes fora criado na região da campanha do Estado.
















Colônia na região de Raposo

Ocorreram várias escaramuças pelo trajeto a vila polaca de São Marcos, pertencente ao município de São Francisco de Paula, cujos habitantes em parte simpatizavam com a causa dos maragatos, bem como já havia ocorrido na 5ª, 6ª e 7ª léguas da região e em Raposo com colonos revolucionários de origem Tirolesa e Italiana.


















Demarcação das léguas na região serrana



Muitos moradores não receberam bem a passagem do pelotão por sua localidade, pois souberam que bem como os rebeldes federalistas os republicanos do governo Estadual usaram de igual violência como moeda as atrocidades cometidas pelos combatentes com os capturados. A cultura da elite gaúcha de cunho mais democrático dos Farrapos diferiu em gênero e número do padrão áspero e bronco da cultura da fronteira, onde inimigo bom era inimigo morto, e nada melhor para motivar as tropas, principalmente contra deserções, do que punições exemplares a vencidos e desertores. Infelizmente os derrotados, foram humilhados e empobrecidos, e o saldo nesta guerra civil que matou 1 em cada noventa habitantes do estado(no início dos anos 1890 o estado tinha cerca de 900 mil habitantes) em pouco mais de dois anos de conflito fora muitos ressentimentos suprimidos, estes para serem resolvidos em outra oportunidade, como a que ocorreria 30 anos mais tarde.














 Gumercindo Saraiva

SEGUNDA PARTE - A REVOLUÇÃO EM SI


INTRODUÇÃO

Antes de tudo devo situar o leitor no tempo que desencadeou o conflito armado de 1893 no Rio grande do Sul. A revolução federalista de 1893 teve o nome dado devido ao conflito associado ao partido federalista fundado por Gaspar Martins.
Gaspar Martins era principal rival político de Júlio de Castilhos que governou o Estado após um conturbado período de tempo pós proclamação da República (pelo Marechal Deodoro da Fonseca), um adepto da ditadura Comtiana a qual a implementou no período pós guerra civil.

Este conflito marcaria bases para outra guerra civil no estado em 1923 mas desta vez o tornaria unido e pronto para algo maior como o golpe armado de 1930 efetuado por Getúlio Vargas.

BASES DO CONFLITO
Depois de 1889 após a proclamação da República, no Rio Grande do Sul dois caudilhos¹ entraram em conflito pelo poder regional após a queda da monarquia.


Partes envolvidas.





Gaspar Martins


Gaspar da Silveira Martins que inicialmente era de ideais monarquistas, após o golpe republicano, a queda de Dom Pedro segundo e seu posterior exílio, ressurge politicamente como federalista de base parlamentar. Representava as elites rurais em especial da campanha gaúcha, esta tentava reverter sua já evidenciada queda de 
prestigio e poder devido à recente urbanização e industrialização, principalmente nas colônias alemãs e italianas do norte do Rio Grande do Sul.






















Júlio de Castilhos



Júlio de Castilhos, era líder do partido Republicano, e representante do meio urbano. Eram base da elite intelectual do estado e baseado as Ideias de Comte² desejavam implementar sua base teórica de progresso e condução das massas no Rio grande do Sul.
Ambos defendiam ferrenhamente seus ideais que no papel tendia para o federalismo entre os estados da nação, mas as elites envolvidas minaram qualquer acerto, e para tanto, usaram dos piores e por que não cruéis meios coercivos e repreensivos para com o inimigo. Isto marcaria a história gaúcha criando profundas cicatrizes entre as partes combatentes.


Preludio do Conflito
Como o posse após a vitória em uma eleição suspeita, de Júlio de Castilhos para o governo do Estado, encerra-se o período de inúmeros governadores do Estado em sequência, o chamado governicho³, que vinha demonstrando o conturbado período político de disputa entre as parte iniciado em 1889.

As principais reclamações dos federalistas eram com relação as eleições, eleitos os líderes do PRR, estes sempre em cima de fraudes e manipulação de eleitores.
O voto era restrito aos poucos que naquele período sabiam ler e escrever, vetado a mulheres e sendo de caráter aberto. Geralmente cerca de 2% da população acabava votando (cerca de 18 mil pessoas). Durante as averiguações se verificaram que até mortos estavam votando, sem contar que geralmente eram os próprios Republicanos que faziam as contagens.

Poucos sabiam expressar sua frustração e reclames mesmo tendo o direito de assim proceder legitimado, assim o faziam por ignorância e por vezes medo mesmo. Os órgãos de reclames entre outros do Estado, eram administrados por republicanos direta ou indiretamente o que por si só já seria um grave entrave.
















Auguste Comte


O PRR (partido Republicano do Rio Grande do Sul) ao iniciar sua forma de governo se impõem irrestritamente contra toda e qualquer forma oposta ao seus ideais. Se colocam como o único meio político para a continuação republicana no estado. Os membros criaram uma monocrácia Comtiana com elevação da figura de Júlio de Castilhos como herói, mascarando na realidade, 
um regime ditatorial, assim legitimando a auto perpetuação do partido no poder. A constituição gaúcha se diferenciava em gênero e numero as do resto do pais por ter bases positivistasreguladores do legislativo e judiciário, estando o poder de promover leis nas mão do executivo.
As leis, criadas por Júlio de Castilhos, assim o foram para se perpetuar no poder, por tanto a decisão final sobre qualquer assunto mesmo se não agradava a população do estado. Neste período o estado e PRR se fundem em um único corpo.


A repreensão

















Tropas da Brigada em Bagé


Os opositores eram idealizados como revolucionários que queriam a volta da monarquia e eram supostamente coligados com uruguaios que tinham como meta desestabilizar o estado Gaúcho e dominar a região sul do Brasil.
A construção de um inimigo externo, uma ameaça iminente proporcionou a criação de leis que criaram uma milícia paralela ao exército Brasileiro, a Brigada Militar(1892). Este exército regional recebera apoio do governo central, seria bem armado e treinado visando proteger as “fronteiras”.
A brigada militar só recebia ordens direta do governo do Estado, por tanto, este tinha uma milícia bélica sob seu comando. Fora as fronteiras tinha por meta proteger os centros urbanos, reprimir revoltas monarquistas e foi amplamente usada no combate aos revoltosos entre 1893 e 1895.


















Tropas federalistas


Os federalistas além de mal equipados, em geral só de posse de lanças e facas domésticas e armas de fogo antigas, poucos detinham cavalos e bem menos ainda, noções táticas militares. Eram um grupo muito heterogêneo, sendo composto pelos Federalistas propriamente ditos, parlamentaristas, monarquistas, caudilhos e milicianos, antigos combatentes, e grande massa de pessoas influenciadas por um ou outro grupo, compostos geralmente por pobres e analfabetos sem nenhuma experiência bélica.


Influência externa






Área de fatos importantes do conflito de 1893


Com uma evidente preparação para uma guerra civil, entre federalistas e republicanos, o embaixador americano informou Washington que o conflito poderia afetar a hegemonia do Império Britânico no Sul da América do Sul. O Uruguai estaria interessado no conflito, no caso de vitória dos federalistas, por estes estarem muito ligados a cultura e o comercio da fronteira. Uma união estaria cogitada entre o pais platino e o rebelde Rio Grande, e seria incentivada e protegida pelos americanos, com o intuito de abrir o mercado para os Estados Unidos no rio da Prata.

 A GUERRA CIVIL DE 1893
 O desenrolar dos conflitos... no segundo artigo a conclusão do Artigo...


FONTES E DICIONÁRIO HISTÓRICO

1- Os caudilhos eram lideres oligárquicos de elites rurais e ou urbanas detentoras de grande poder econômico que ditavam os tramites legais, políticos e miliciano paralelamente ao poder do estado nacional.


2- Augusto Comte, Francês idealizador do positivismo na metade do século XIX, onde se tem os lideres intelectuais e de importância para a humanidade exaltados numa espécie de culto humanista. Visando seu criador a substituição de valores pregados por religiosos por valores palpáveis e reais para a construção da história humana. 
Comte pretendia resolver os conflitos entre capital e trabalho, assim como Marx, mas ao contrario deste o proletariado não era o foco, mas sim sábios iluminados, atravéz de uma ditadura republicana. Para o pai do positivismo Somente estes lideres poderiam se colocar acima dos interesses no intuito de unir classes divergentes. 


Templo Positivista - Porto Alegre, a capital gaúcha, próximo ao parque Farroupilha possui um dos cinco templos positivistas do Mundo ainda em atividade. Estes pregam o amor e reverencia aos parentes, sábios e todos aqueles que proporcionaram melhorias e progresso para a humanidade!









3- GOVERNICHO- Caos político e falta de lideranças políticas e ideológicas estáveis para governar o estado do Rio Grande do Sul entre 1892 e 1893.
Essa fase da história gaúcha do "governicho" é bastante complicada. O presidente indicado por Floriano, Demétrio Ribeiro, lentamente se reaproximou de Castilhos e foi afastado em 08 de junho de 1892, assumindo como presidente provisório, José Antônio Correa da Câmara, e como vice-presidente, Francisco da Silva Tavares. Porém, em 17 de junho de 1892 Júlio de Castilhos depôs o "governicho" e assumiu o governo por um dia, indicando Vitorino Monteiro como seu vice e governante interino até as eleições, às quais ele mesmo era candidato.
Portanto, a partir de junho de 1892, houve duplo governo no estado, com Francisco da Silva Tavares (em Bagé), e Vitorino Monteiro, depois sucedido por Fernando Abbott (em Porto Alegre). Essa situação perdurou até a posse do segundo governo de Júlio de Castilhos, em janeiro de 1893.

4-Positivismo-  Ideologia criado por Augusto Comte afirma que o conhecimento humano seria limitado exclusivamente aos fenômenos e que mesmo esse conhecimento seria relativo ante análise e experimentação. Rejeita todos os fenômenos metafísicos. Este mesmo conhecimento humano em sua evolução social passa por três estágios, o Teológico (ação de uma vontade suprema), o Metafísico (Fenômenos atribuídos a abstrações ou a causa) e o Positivismo(Razão). O positivismo advoga a classificação das ciências por meio experimentais e históricos além de uma sociologia baseada num altruísmo utilitário. Base de um culto ao ser humano sem cunho religioso retornando ao estado teológico da razão como base.

OLIVEIRA VIANA. Francisco José; Populações Meridionais do Brasil (segundo volume). Rio de Janeiro, Livraria José Olimpo Editora, 1952.