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domingo, 31 de maio de 2015

REVOLUÇÃO FEDERALISTA DE 1893 - VILA DE SANTA TEREZA DE CAXIAS DO SUL-PARTE 02





VILA DE SANTA TEREZA DE CAXIAS DO SUL


Reprodução de Caxias no início de sua colonização.

Nota do divulgador:
O repórter Adriano Duarte  do Jornal serrano Gaúcho  O Pioneiro, da Cidade de Caxias do Sul me contatou em Outubro de 2018 para informações sobre este artigo.
O repórter solicitou as fontes para serem utilizadas em uma série de reportagens que o periódico publicaria entre novembro e dezembro daquele mesmo ano. O assunto englobou a violência  na história da Região Serrana do Estado do Rio Grande do Sul.  
 segue o link para acessar uma das reportagens que foram  publicadas semanalmente em novembro de 2018, com o assunto tratado aqui neste artigo.

http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/geral/noticia/2018/11/voce-sabia-varios-corpos-estariam-enterrados-na-regiao-do-mato-sartori-em-caxias-10636279.html


A cidade de Caxias do Sul em 1894 se chamava Vila de Nossa Senhora de Santa Tereza de Caxias do Sul e a poucos anos havia sido elevada à condição de município.
 Caxias do Sul na época possuía um cunho ideológico capitalista mais elaborado que a região da campanha gaúcha, devido a grande maioria de sua população já ter passado por esta experiência proletária na Europa.


Caxias do Sul em 1876

A vila aos poucos estava se identificando com o meio urbano, sem esquecer do meio rural ainda preponderante. Os republicanos ligados ao governo ali residentes relutaram bastante durante os conflitos para trazer para o seu lado a maioria da população.
Á região detinha certos privilégios que as demais do Rio Grande do Sul não possuía, sua proximidade geográfica e acesso da capital a colocavam em um ponto estratégico.


Caxias do Sul na época da criação do Município.

 A vila de Caxias já estava acostumada com a instabilidade política desde sua fundação, naqueles tempos em que se comemorava o aniversário dos 25 anos de povoamento, Caxias ainda era uma pequena povoação, com poucos moradores na zona urbana, cerca de dezesseis mil habitantes ao todo.



A emancipação



Em 1889 além dos problemas de escoamento da produção, devido às precárias condições das estradas, os colonos ainda continuavam pagando suas dívidas à Comissão de Terras e, na condição de distrito, passaram também a pagar à Intendência de São Sebastião do Caí o imposto sobre a propriedade.

As distâncias entre a sede do 5º distrito e a sede do Município de Cai eram grandes para os padrões da época, bem como as pendências administrativas ou judiciais que dela dependia eram de morosa solução.

Por outro lado o município de São Sebastião do Cai detinha poucos recursos e por conseguinte pouco ia para a Vila, ficando sem nenhum tipo de assistência material.
Insatisfeitos com a situação, comerciantes se organizaram e reivindicaram a emancipação junto ao governo estadual.


As primeiras intendências o início do Município


Bandeira do Município de Caxias do Sul.

Em 20 de junho de 1890, foi elevado o distrito Caxias a município, pelo Decreto Estadual N º 257, assinado pelo General Cândido José da Costa, governador do Rio Grande do Sul.
Os caxienses tentavam já a certo tempo conseguir se emancipar de São Sebastião do Cai e o esforço finalmente teve seus frutos.
A emancipação foi comemorada com festejos que duraram três dias. Entre eles, a inauguração dos sinos da Catedral Diocesana de Caxias do Sul e uma exposição de produtos coloniais.



Logo após a emancipação a Junta Provisória de Caxias solicitou ao Governo do Estado que fossem mantidos para o município os limites da colônia. O município de Caxias do Sul na última década do século XIX  já possuía 38 casas comerciais e 120 pequenas empresas industriais. Eram dezesseis mil habitantes que produziam, vendiam, compravam, pagavam impostos e agora ansiosos em participar das decisões administrativas e políticas do município.

Os primeiros governantes do município bem como dos outros novos que também estavam surgindo, eram nomeados pelo governo estadual, seguindo a constituição castilhista. Os edis em sua maioria eram lusos e maçons.

No período de 1892 a 1902, em dez anos, Caxias teve quatro intendentes que administraram o município, sendo que todos se exoneraram do cargo: Antônio Xavier da Luz, intendente de 1892 a 1894; José Domingos de Almeida, de 1894 a 1895; Alorino Machado de Lucena, em 1895; José Cândido de Campos Júnior, de 1895 a 1902, que se demitiu do cargo após desentendimentos com a Associação dos Comerciantes.


 
Alorino Lucena Intendente em 1895


Caxias do Sul até o final do século XIX teria uma situação político-social conturbada com a revoltas de colonos, enfrentamentos entre federalistas e republicanos, conflitos entre maçons e católicos, (rivalidades decorrentes da unificação da Itália) atentados, exoneração de intendentes e conselheiros, conflitos entre instituições, Intendência e Conselho Municipal. Grandes disputas no campo da política, que marcaram o primeiro período administrativo do município de Caxias.


Caxias do Sul e os conflitos da Republica




Para a administração da Vila de Santa Teresa de Caxias, o governo estadual nomeou, em 28 de junho de 1890, uma Junta Governativa Municipal, cuja posse foi em 2 de julho de 1890.
A Junta era formada por Ernesto Marsiay, presidente, Ângelo Chitolina e Salvador Sartori, todos comerciantes e imigrantes italianos.

Em 3 de setembro de 1890, o governo do estado aumentou de três para cinco o número de membros da Junta Governativa, sendo nomeados Germano Parolini e Pedro Oldra.

Ocorreram muitas mudanças em relação aos componentes da Junta Governativa. O único que permaneceu em todo o período da administração de 02 de junho de 1890 a 15 de dezembro de 1891 foi Ângelo Chitollina.




Ao término da administração, os componentes da Junta eram formados por Ângelo Chitollina, Germano Parolini, Romano Lunardi, Rodolfo Félix Laner e Luiz Michielin.

Um ano e quatro meses após a emancipação, no dia 20 de outubro de 1891, os caxienses elegeram, pela primeira vez, os seus dirigentes. Foram eleitos sete conselheiros para compor o primeiro Conselho Municipal, a maioria comerciantes da vila.

O Conselho Municipal continuou desempenhando as funções até então desenvolvidas pela Junta Governativa, “um órgão executivo e não legislativo, como a princípio parece”(Adami),  executava leis e ordens emanadas do Governo do Estado, a quem os municípios novos estavam subordinados.

O período da posse e gestão do Conselho foi de diversos conflitos, reflexo da situação conflituosa a nível nacional e estadual.

A maçonaria age

A maçonaria desejava a paz e a Loja Força e Fraternidade..." recomenda prudência e moderação aos seus associados” ... Mas apesar de seus esforços as lutas políticas nos novos municípios tornou-se violenta.

No período compreendido entre 1890 e 1894, em Caxias, a Loja Força e Fraternidade pausou as atividades, nas atas não são revelados os motivos de seu fechamento. Parece evidente, porém, que nem os membros conseguiram se manter neutros. A mesma questão que dividia sociedade brasileira o Estado e os municípios fragmentou também a irmandade.

Em geral porem as lutas foram atribuídas ao “grupo dos ‘carbonários”, importantes na reunificação italiana. Teriam sido estes que incendiaram a política regional e deram início as revoltas municipais caxienses.

Os carbonários logicamente, não foram os únicos responsáveis pelas lutas regionais. Figuras importantes da política municipal   que estiveram à frente das lutas eram maçons.
Entre eles:

         Rodolfo Felix Laner próspero comerciante, primeiro colono a ter moradia fixa no Campo dos Bugres( nome da primeira colônia em Caxias do Sul). Laner também era da diretoria da Loja maçom e um republicano convicto;
     
         Belizário Baptista Soares um rico fazendeiro e comandante do grupo de maragatos membro da irmandade Força e Fraternidade;

        Francisco Salerno, delegado de polícia, também da irmandade Força e Fraternidade.

        Afonso Amábile e Cesare Porta, ambos que também lideraram as revoltas no município, ao que tudo indica eram carbonários.

Os seguindo havia mais de trezentos homens, nem todos de livre escolha, segundo fontes da época; sendo constituído as forças em sua maioria de colonos, católicos e maragatos.

As revoltas elaboradas pelos maçons após a criação do município acabariam por acirrar muito dos ânimos em Caxias. Outros membros maçons de destaque na região no período foram:






José Domingues de Almeida intendente de 1894-1895
-José Domingues de Almeida, fora secretário do município durante muitos anos.



-Ângelo Chitollina era empresário e membro da primeira da Junta Governativa de Caxias do Sul do período de 1890-1892.



- Salvador Sartori, líder católico, também fazia parte da primeira da Junta Governativa do período de 1890-1892.

Fazia parte da política de Júlio de Castilhos unir dirigentes de ideologias políticas diversas nos novos municípios, a velha máxima de dividir para governar. A grande maioria dos dirigentes maçons de Caixas era composta por colonos italianos, o que diferia das outras regiões do Estado, que tinham muitos lusos.

O problema em si mesmo era que os maçons eram liberais laicos ao contrário da maioria conservadora da população. O domínio da Igreja Católica prevaleceu nos primeiros anos da República, e procurava atuar contra a Maçonaria, fonte de rancor pela perda dos estados pontífices, o que levou a pouca atuação ou ineficiência das lojas em atuar mais amplamente.



A REVOLTA DOS COLONOS


Após 1890, na capital do Estado ocorre o enfrentamento entre os republicanos e os antigos monarquistas, agora chamados de liberais.

Os primeiros liderados por Júlio de Castilhos, os segundos pelo General Câmara. As lutas dos dois grupos pelo poder estadual ocasionam uma instabilidade política. Em menos de dois anos o governo do Estado mudou de mãos dezenove vezes, e esta política estadual repercutiria profundamente nas antigas colônias em especial com revoltas semelhantes em menor escala.

No município também havia dois grupos conflituosos, o primeiro formado pela maioria dos comerciantes, que apoiava o Partido Republicano Rio-grandense (PRR). O segundo grupo compostos por alguns ex-monarquistas e colonos, que se alinhavam aos ideais federalistas.

Um ano e cinco meses após a emancipação do município, e um mês após a eleição do Conselho Municipal, se iniciaram os conflitos pela liderança política de Caxias.
Os conflitos tiveram por pretexto base o fechamento do Congresso Nacional, pelo então presidente do Brasil, Mal. Deodoro da Fonseca, ocorrido no dia 03 de novembro de 1891. Este ato levou a manifestações contrárias em todo o país, bem como no Estado Rio-grandense e motivou ações nas colônias italianas.


 A primeira revolta Caxiense



O quarto da direita para esquerda era Amábile.

O primeiro conflito ocorrera em 26 de novembro de 1891, 36 dias após a eleição do Conselho Municipal e cinco dias antes da data marcada para a sua instalação, quando ocorreu uma resistência política em Caxias, conhecida como primeira revolta dos colonos.

Tinha como objetivo tomar o controle da administração do município. Esta junta revolucionária só sairia em 14 de dezembro de 1891, mediante intervenção Estadual, data que reassumiria a junta deposta.

O pretexto oficial para a reação colonial, fora devido a posição do governador eleito Júlio de Castilhos em apoiar o golpe do Presidente do Brasil contra a Constituinte, mas obviamente era vinculada a outras insatisfações dos revoltos.

 Afonso Amábile que exercia na Vila, a função de enfermeiro e Cesare Porta, de celeiro, com sua experiência Carbonária trazida da Itália, agora lideravam os revoltos, homens armados, constituídos em sua maioria por colonos federalistas. Tinham o intuito de deporem a Junta Municipal indicada pelo Governo Estadual.

Salerno fora Intendente da primeira junta revolucionária de Caxias Do Sul

A revolta Municipal, liderada por Afonso Amábile e Cesare Porta, seria presidida pelo delegado Francisco Januário Salerno. Também era integrada por Domingos Maineri, Luiz Pieruccini, João Dalla Santa e Pasqual Mangeri, nomes influente na Colônia de Caxias.

O grupo revolucionário manteve-se na Intendência por dezoito dias. Alegavam fora a já comentada posição de Júlio de Castilhos em âmbito federal, também o descontentamento geral dos colonos caxienses com a Junta Governativa. A principal insatisfação era devido aos elevados impostos cobrados da população, bem como o da falta de estradas e da má conservação das existentes.

 Os revoltosos também não concordavam com posições político-ideológicas de alguns conselheiros, reflexo da disputa estadual pelo poder dirigente e das rivalidades trazidas da Itália referentes à unificação italiana.

 O então delegado municipal, Francisco Salerno, impediu a posse do Conselho indicado, pelo governo Estadual, assumindo para si a presidência da mesma. Poucos dias depois, em 14 de dezembro de 1892, a Junta caxiense indicada pelo governo Estadual reassume o poder e empossa o Conselho Municipal mediante acordos e promessas aos revoltos.

Porém a tensão voltaria no dia 09 de janeiro de 1892, quando o Conselho Municipal encaminhou um ofício ao governador do Estado comunicando que informava que Francisco Salerno havia retirado todos os móveis da casa onde funcionava a Intendência e que a vila encontrava-se na maior anarquia política. A apreensão dos móveis e objetos pela Junta Revolucionária foi no sentido de impedir o Conselho de administrar o município que passou então a se reunir em sala provisória, na casa de Rodolfo Félix Laner.

O governo do estado ordenou que Francisco Salerno devolvesse os móveis e objetos, mas, além de não devolver, Salerno publicou um edital, assinando como se ainda fosse o presidente da Intendência, solicitando aos contribuintes que não pagassem os impostos municipais. Também enviou emissários em todas as linhas do interior do município para divulgar a ação.


Alferes Francisco Nabuco Varejão

Francisco Salerno e Afonso Amábile faziam discursos nas ruas e tabernas no mesmo sentido de desobediência civil. Foi somente com a intervenção do delegado da Polícia do Estado, o Alferes Francisco Nabuco Varejão, e por este que a legalidade fora assegurada. Os móveis e objetos levados por Francisco Salerno foram devolvidos á sede da Intendência, em 18 de março de 1892 sem maiores impedimentos.

Numa tentativa de apaziguar os ânimos criados por esta situação, em 30 de maio de 1892 o governo do Estado aumentou de sete para nove o número de conselheiros municipais. Nomeou dois integrantes da Junta Revolucionária. Cidadãos como Luiz Pieruccini e Domingos Maineri foram então nomeados para participarem do Conselho municipal, e indicou Maineri para ser presidente.

Os conselheiros aceitaram a nomeação de mais dois conselheiros, porém não concordaram com a indicação de Maineri para a presidência, alegando sentirem-se desmoralizados pelo grau de influência dos Revoltos no governo municipal.


A segunda revolta caxiense


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A segunda revolta dos colonos se iniciou em 25 de junho de 1892 com um grupo revolucionário armado de mais de 300 homens, muitos recrutados por coerção, segundo fontes oficiais, e na calada da noite do golpe.

Foram capitaneados por Francisco Salerno e Afonso Amábile novamente entre outros, que cercaram o edifício onde funcionava conselho municipal de Caxias do Sul, exigindo a entrega de todos os documentos e arquivos existentes, sob a alegação de que estavam assumindo a gerência dos negócios do município.
Amábile fizera a exigência em nome do Vice governador do Estado do Rio Grande do Sul, o General José Bonifácio da Silva Tavares (Joca Tavares). As intervenções municipais correspondem às estaduais do mesmo período

A Câmara de vereadores de Caxias do Sul encaminhou ofício ao governador do estado, em 27 de junho de 1892, comunicando que havia tomado posse da Intendência e argumentando que tal episódio ocorrera devido à má administração do Conselho e pela cobrança inapropriada de impostos, com multas e juros exorbitantes.  Comunicava também que os integrantes foram escolhidos por aclamação pública e que após este ato administrariam o município.



Joca Tavares

Os revolucionários contavam com o apoio da força policial do município de Caxias e da guarda Cívica. A pacificação municipal se deu pela regência dos revolucionários Luis Pieruccini, Domingos Maineri e Vicente Rovea, ficando somente até 05 de julho de 1892.

O governo estadual nomeou, em 5 de julho de 1892, Antônio Xavier da Luz chefe da Intendência Municipal.Os revolucionários entregaram o poder ao intendente indicado pelo governo Estadual que apesar de natural de Santo Antônio da Patrulha, Tomou posse em 1º de agosto de 1892 e nomeou Luiz pieruccini, do grupo revolucionário, como subintendente, com apoio dos grupos dissidentes o que amortizou as disputas políticas.
Antônio Xavier da Luz

Na mesma data o Conselho foi reempossado para organizar a entrega da documentação ao intendente. Os revoltosos devolveram à Intendência o arquivo e os objetos apreendidos durante a revolta.
 Em 26 de setembro de 1892, o Conselho Municipal, eleito em 20 de outubro de 1891, tomou posse como Poder Legislativo. Foi o primeiro Conselho Municipal que exerceu as funções de Poder Legislativo.

A partir de então Caxias passou a ter o Poder Executivo, representado pela Intendência Municipal, e o Poder Legislativo, representado pelo Conselho Municipal.
Tendo sido nomeado por Júlio de Castilhos após a retomada do poder estadual ocorrida no dia 17 de junho deste ano Xavier luz ficaria com a presidência da intendência até 1894.




A residência de Francisco Bonatto em 1892, hoje o número 1489 da Avenida Júlio de Castilhos, na foto a esquerda em primeiro plano.O prédio serviu de sede administrativa das Juntas revolucionárias de 1891 e 1892, quando depostas as governativas.


A desconfiança da população

Esta instabilidade, fruto da forma como estava sendo conduzindo a política, além das incertezas sobre a eficiência do Governo Estadual acabaria por gerar a desconfiança da população com seus novos administradores.

Vários foram os colonos que aderiram à causa federalista e também muitos sucumbiram no decorrer dos conflitos na vila de Caxias ou ao longo da revolução. Em geral a maioria dos populares eram alheios a situação política do governo, salvo os de vida urbana.

O povo, não queria tomar partido de conflitos, motivo para muitos de terem saído da Itália. Aproveitando-se do fato de serem agora extremos conhecedores da região das colônias, a população tratou de se manter oculta assim que se iniciaram os conflitos.


As notícias

Zona rural de Caxias no final do século XIX                 

As ondas de boatos no ano de 1894, era intenso, devido ao temor pelo conflito civil gaúcho que se iniciara um ano antes, começam a sair do campo das fabulas para o da dura realidade. O pânico se espalhava pela região das colônias, muitos destes boatos eram tomados por fonte fidedigna devido a precariedade dos meios de comunicação da época.

 O telégrafo e um sistema postal eficiente eram ausentes em toda região serrana e Caxias do sul não dispunha ainda de um periódico, já que o primeiro jornal só seria fundado em 1898.
Para proteção da sede da Vila havia apenas 50 soldados do 44° batalhão da guarda nacional, longe de serem eficazes perante a eminencia invasão de umas das colunas de Gumercindo Saraiva, que segundo os rumores da época, partiria para tomar a capital vindo de Vacaria, passando por Caxias do Sul.

Gumercindo naquela altura do conflito, possuía quase 3000 homens, e o temor de sua incursão fez com que o intendente da vila o Sr. José Domingues D’Almeida solicita-se providencias defensivas.
Prelúdios do conflito


Colonos Italianos

Vários relatos de fontes oficiais, de homicídios no final do ano de 1893 e início de 1894 deram força ao medo crescentes dos cidadãos da vila.

Travessão Alfredo Chaves (Flores da Cunha).

As autoridades por vários fatos como o descrito abaixo, no Travessão Alfredo Chaves, acabam por concluir a ação de forças regulares federalistas agindo nas colônias.

“Segundo a agencia do Real Consulado Italiano em relato à polícia de Nova Trento no dia 06-12-1893, que fora encontrado na estrada que segue para Antônio Prado 02 defuntos, um preto com marca de espada nas costas e um branco degolado, amarrados achando-se obra de uma força regular na região, as vítimas foram atiradas no paredão de pedra desta estrada, sendo retirados posteriormente para serem enterrados ou queimados.” 1.

Cooperativa Vinícola de Flores da Cunha no início do século XX

Na estrada de Alfredo Chaves houve várias mortes, segundo lembranças de Helena Amantéa, testemunha dos fatos, pelo menos três mortos cujos sobrenomes eram das famílias Bacin, Pegoraro e Dalponte.

 Segundo o coveiro de Caxias na época, Felix Rossi, no mês de julho de 1894 foram recolhidos nove cadáveres nos arredores da povoação e enterrados no cemitério público municipal.
Para dar maior folego ao medo generalizado dos colonos que já haviam saído de sua terra natal para fugir da fome e da miséria, bem como do constante, estado de conflito.

 O temor de estarem envolvidos novamente em guerras, devido aos relatos divulgados da ação de forças regulares se organizando pela região, fez com que muitos começassem a se mobilizar belicamente ou no intuito de abandonar a região.

Danos do estado de guerra nas colônias


Tropa típica federalista.

A região sofreu com os combates de ambas vertentes políticas. Cercada pelos campos de cima da serra, esse era ponto de passagem e de abastecimento das tropas litigantes.

Estancia do interior de Caxias Do Sul no final do século XIX.

Grande foram os prejuízos dos colonos, alguns dos quais acabariam aderindo à luta contra os legalistas já nas revoltas municipais, devido aos altos impostos municipais e a cobrança das chamadas dividas coloniais, ou seja o débito que os colonos ainda tinham com o governo nacional. Sem esta motivação dificilmente teriam aderido ao movimento.

 Para piorar a situação dos colonos neutros, com a eclosão da revolução de 1893, não só com os federalistas estes tinham que se preocupar. As forças republicanas no encalço destes grupos combatentes, causaram muitos danos aos bens e propriedades, mesmo que com promessas de ressarcimento do Estado aos moradores das colônias.

Acampamento tropeiro aos redores de Caxias do Sul.

 No mês de maio de 1894 havia um comando da brigada militar que se encontrava em operações na zona colonial, e acabou montando acampamento em Caxias do Sul. O batalhão quando partiu em direção a São Francisco de Paula para confrontar rebeldes, durante o trajeto abateu algumas das esparsas rês que dispunham os colonos.

“No dia 04-05-1894 fora organizado um contingente de 20 homens para conter um bando maragato na região de São Marcos, todos custeados pelo governo. Para este grupo fora nomeado por Júlio de Castilhos o Cel. Antônio Tupy que durante dois dias realizou operações na região” 2.

Pelos registros no dia 27 de maio de 1894, os moradores da região das colônias contabilizaram uma perda de 27 rês, fora outros animais como mulas cara transporte de carga, aves e porcos. O valor dos prejuízos foram encaminharam para ressarcimento junto ao governo do estado, mesmo sabendo que demoraria muito para quitarem esta dívida. Pelos registros fiscais do Estado, as indenizações começaram a ser pagas somente por volta de 1898.

No dia 10 de maio de 1894 fora encaminhado novos pedidos de indenização ao governo do estado devido a prejuízos causados pela passagem de tropas de Felisberto Batista Soares e Joaquim Mascarello, pertencentes ao núcleo populacional de São Marcos.

A queixa fora feita presencialmente do Capitão José Cardoso para o secretário interino Antônio Xavier da Cruz do município de Caxias, que as encaminhou diretamente ao Presidente do Estado Júlio de Castilhos. Para amenizar os ânimos da população na região neste caso o governo restituiu prontamente todos os danos causados, através do delegado da época Paulino Teixeira.

Havia muitos imigrantes que eram simpáticos a revolta e Júlio de Castilhos queria trazer para o seu lado a região da serra. Muitos vieram fugidos dos conflitos da época da reunificação Italiana e sabiam muito bem como agir, se necessário a ações armadas.

Os ânimos

O clima se encontrava tenso com o andamento do conflito iniciado em 1893, Toda pessoas estranha a região da colônia era vista com maus olhos e tratadas da mesma forma, e este xenofobismo se intensificaria após a invasão.

Começou a se verificar o abandono da cidade pelos moradores quando souberam do avanço das tropas de Gumercindo Saraiva em direção a Vacaria. Os colonos e as autoridades acreditavam que Gumercindo Saraiva se passasse pela vila, com certeza iria arrasar a cidade em busca de despojos de guerra.

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Região dos Campos de cima da Serra

São Marcos em especial era considerado m reduto de simpatizantes da causa federalista dispostos a incorporar as fileiras do Caudilho Gumercindo Saraiva. Nessa região, destacaram-se dois nomes de revolucionários de expressão como José Nicoletti Filho e Adolpho Fortunatti, vulgo Storti ou Storchi.
Cooperativa Rio Branco em São Marcos

Na região do campo e também em São Marcos os maragatos eram a maioria. A avalanche maragato foi tão grande, que, segundo alguns, teriam a ela se filiado muitos imigrantes, entre eles, poloneses recém-chegados e descontentes com o Governo, que não cumpria suas promessas para atrair colonos.

Por isso São Marcos passou a ser visto como um reduto maragato. E, a 30 de outubro de 1895, o comerciante de armas Germano Wagner, em carta ao já intendente de Caxias, José Cândido Campos Júnior, após comentar a venda de armas escreve:

“Porque os inimigos da Pátria não dormem e pelo que sabemos, o que se dá em outros municípios, podemos fazer uma ideia de luta que terão de sustentar para fazer respeitar as leis a essa gente anarquizada e má. Cuidado com o São Marcos”3.

A vila de Caxias temia um ataque das forças dos maragatos organizadas no campo provenientes de desta região. Por tanto Antônio Xavier da Luz, intendente de Caxias, em 06 de setembro de 1893, escreve que o Alferes Erasmo de Lima, comandante da força de infantaria que guarnece Caxias
“...com sua calma tem conseguido manter a ordem e o sossego das famílias, bem como evitado que alguns grupos de desordeiros que percorrem os distritos de São Francisco de Paula e outros limítrofes com este Município, o invadam” 4.

A cidade não se acalma

Com os prejuízos constantes, os altos valores de impostos e o vai e vem de tropas deixavam os colonos inconformados com as perdas sofridas causados por ambos grupos bélicos. Isso afetava a produção do campo e o varejo da cidade pela precariedades, falta de qualidade e insegurança dos transportes coloniais.
“...aos chimangos (republicanos). A revolta trouxe prejuízos aos negociantes e à população, visto que os revolucionários das duas facções saqueavam as casas comerciais e requisitavam as plantações os animais para suprir as necessidades das tropas. O transporte das mercadorias fica assim bastante prejudicado. Os comerciantes que haviam conseguido a emancipação já não estavam unidos, a política os separara. Suas posições determinaram sua participação na liderança das revoltas." 5.

Ernesto Marsiaj era o líder dos republicanos e Vicente Rovea era um dos líderes federalistas. Outra divergência dividia os negociantes, alguns eram católicos praticantes e outros maçons. Algumas escaramuças ocorreram no final do século XIX, entre os dois grupos. O motivo foi um padre ultra católico, pároco da cidade, ter sido expulso da cidade.
A maioria das pessoas apesar de terem um ideário político queriam evitar maiores complicações se mantinham aparentemente neutras, poucos discutindo abertamente suas opiniões.

Luigia Grossi

Neutra parece ter sido a hoteleira Luigia Grossi, dona do Hotel Bela Vista, era conhecida pela sua neutralidade, por isso ela usava duas bandeiras. As bandeiras eram hasteadas de acordo com as cores políticas do grupo que vinha comer ou se hospedar no seu estabelecimento. Para o bom andamento dos negócios muitas vezes era conveniente servir a dois senhores.

Conflitos Religiosos

Padre Nodasini, pároco ultra católico de Caxias.

Fora as divergências politicas, tínhamos a religiosa. A Igreja católica por meio do clero local hostilizava os maçons. As duas instituições passaram a serem belicosos após a perda dos Estados Pontifícios, por ocasião da Unificação Italiana (1871) na qual a Maçonaria foi fundamental no processo e logico a perda dos estados pontífices.


O perímetro urbano de Caxias na década de 1890

Os pequenos incidentes que escondiam grandes diferenças entre católicos e Maçons. O pároco da vila falava para os católicos não comprarem nas lojas dos maçons, o que gerava retaliações adeptos a irmandade. São pequenas coisas com grandes efeitos!

Em 1894 quando da reabertura da Loja da Vila, Francisco Salerno, informou aos irmãos maçônicos, que escondeu muitos perseguidos tidos como profanos e ameaçados de morte, na sua casa, salvando assim suas vidas.  Os incidentes entre Paróquia e a Loja maçônica com passar do tempo tenderiam a se agravar. O Padre Nodasini, o pároco ultra católico de Caxias criou várias rixas com os de Ideologia maçons, o que acabaria por ser um dos motivos de sua expulsão da cidade já no final da década de 1890.

O comércio do município de Caxias na época da revolução de 1893

Caxias tinha uma sociedade urbana atuante apesar de diminuta se comparada a capital do Estado na mesma época. Eram comerciantes e prestadores de serviço típicos italianos, onde as especiarias e os produtos coloniais ganhavam valor e importância. Alguns dos mais atuantes temos citados a seguir:

 - José Cândido de Campos Júnior, natural de Caxias, além de maçom era negro.  Sempre ligado a vida pública, fora secretário do município na época dos conflitos, sendo muito atuante na sociedade. Concedia audiências na intendência todos os dias das dez da manhã às três da tarde. Horário cômodo para todos. Atendia inclusive nos sábados, mas não nos domingos e feriados. Seria nomeado intendente do município entre 1895 e 1896. Em 1896 se mantém no cargo mas agora não por indicação, mas por eleição, até 1902.

Área da futura praça Dante Alighieri.

-Na parte representativa do governo nacional para o casamento civil bastava tratar com J. M. Borges Cobra que atendia os interessados na Praça Dante Alighieri a preços atrativos, pois naqueles tempos o casamento civil era ainda uma novidade, já que antes bastava o religiosos (católico) pois a Igreja era associada ao Império, o que criaria outros engôdos entre maçons e o clero.

-No ramo de turismo e hospedagem o principal hotel da cidade era o Hotel União, no qual havia cômodos confortáveis, excelentes bebidas nacionais e estrangeiras de todas as qualidades. Contava ainda com cozinheiro apto a satisfazer a mais exigente freguesia com comidas brasileiras e italianas. Com música ambiente ao som de piano, garantindo o maior asseio, segundo fontes da época. Também recebia pensionistas mensais e fornecia comida para fora de seu estabelecimento, sendo uma das primeiras entregas a domicilio.  Situava-se na Rua Júlio de Castilhos.

 - No juizo de leis e defesas legais Caxias tinha o Dr. Diana Terra, que  morava e advogava no Hotel União, onde atendia seus clientes todos os dias uteis. Era um dos poucos doutos da colônia.

-A Farmácia Santa Tereza, tinha esse nome em homenagem ao município. Propriedade de Ricardo Landell de Moura, situada na época na Praça Dante, número 41, uma das primeiras drogarias e ainda por cima, com atendimento 24 horas para os moradores da cidade.

Ricardo Landell de Moura

Ricardo Landell de Moura após este período de conturbação politico-militar de Caxias do Sul, iria para Porto Alegre, fundando outra Farmácia na zona rural da capital, onde atualmente se encontra os bairros Tristeza e vila nova, uma prospera região de colonos Italianos!

- Havia ainda outras drogarias alem da farmácia Santa Tereza, como a Drogaria Americana e a Farmácia Colombo onde já era possível comprar Água Tônica, sucesso da época, para o cabelo e tido como poderoso remédio contra a caspa, um luxo da modernidade que chagava a Colônia.


-Havia ainda casas comerciais dos mais variados ramos como a casa comercial de produtos
propriedade do Sr. Antônio Moro na qual se encontrava o vinho nacional puro, sem conservantes. Na foto acima no primeiro prédio a esquerda do dito comerciante também funcionou a primeira junta governativa do município de Caxias do Sul, instalada no dia primeiro de outubro de 1890. Ficava onde atualmente é o número 2089 da Av. Júlio de Castilhos esquina com Garibaldi.

 -A casa comercial de Maineri & Irmão,  era um prospero mercado de viveres, variando com sortimento de fazendas, aos tradicionais secos e molhados.


Obras de nivelamento na Rua Silveira Martins, atual Avenida Júlio de Castilhos, entre as Ruas Andrade Neves e Vereador Mário Pezzi.

 - Para produtos manufaturados e de importados a cidade tinha o Petti Bazar, de Antônio Botelho, na praça Dante, vendia vinhos importados vindos do Alto Douro, fazendas finas, perfumarias, miudezas, louça, ferragens e tudo quanto era necessário na casa de um colono naquela época.
- Para cuidados com a saúde, Caxias tinha o médico da  época,  Dr. Guido Levi, que residia e clinicava na Atual Júlio de Castilhos com Borges de Medeiros.

Caipora

Fora um centro de negócios fundado em 1890 pelo federalista Rovea, na Rua Silveira Martins, no local conhecido como Caipora, era um prédio de alvenaria próximo à saída de Caxias em direção à Ana Rech e dos Campos de Cima da Serra, onde se oferecia condições de acampar em potreiros próximos pois exista galpões e boa aguada para os cavalos.
Quem sabe, por esta razão, Rovea teria muitos amigos tropeiros maragatos que residiam na zona de campo e frequentavam este local regularmente.

Caipora no início do Século XX

-No Caipora, tínhamos ainda o açougue de João Curzel. Um dos poucos locais na colônia para compra de carnes com cortes onde a maioria dos colonos ia vender seus produtos caseiros e adquiris as qualidades que não dispunham.

Todos os aspectos da vida moderna do final do seculo XIX estavam presentes na vida dos colonos 14 anos apos as primeiras levas de imigrantes chegarem a colonia de Caxias do Sul. Apesar da instabilidade politico-religiosa que estavam passando, nada se compararia ao que a colonia já havia passado ate então com a guerra civil Gaucha.

A INVASÃO


Rotas do ataque e fuga a vila de Caxias

Em uma fria madrugada de 29 de junho de 1894, a então vila de Santa Teresa de Caxias do Sul fora despertada ao som de um intenso tiroteio, estes oriundos de meio milhar de tropas federalistas dispostas em duas colunas. A coluna maior liderada por Belizario Baptista e a menor por José Nicoletti.

Ambas tropas entraram em meio a uma disparada de cavalos, saindo de atalhos usados pela população entre as colônias, pelos quais não se fizeram notar a aproximação, portanto não percebidos a tempo de uma melhor resposta das tropas de defesa da Vila.

Tendo chegado na Vila de Caxias, os revolucionários, divididos em grupos menores e guiados por correligionários seus, residentes na vila ou no interior do município alojaram-se em vários pontos estratégicos. Houve, então, varias escaramuças, que duraram 15 horas.

Estavam participando do assalto a Caxias, além de José Nicoletti e Belizário Baptista, Adolpho Fortunatti, João Paolutti, Carígio Fontana, vulgo Maragatin.

Grupo de Tiroleses

Os federalistas eram compostos por vários colonos italianos, tiroleses e poloneses procedentes dos campos de cima da serra em sua maioria, que quando adentraram na vila já se posicionaram em pontos estratégicos para evitar trocas de tiros com a pequena resistência legalista.

Belizário Baptista

Belizário Baptista de Almeida Soares

A coluna do cel. Belizário Baptista de Almeida Soares, este era um grande proprietário de terras, conhecido na época como “Sinhô Grande” a 29 de junho de 1894 “com 400 homens, invade e ocupa a Vila de Santa Tereza de Caxias, por onde chegara na sede da vila cruzando as 6ª,7ª e 8ª léguas, montando acampamento antes da invasão nas terras de Rodolfo Felix Laner e dali partindo para o ataque a sede municipal.


Prédio da intendência de Caxias do Sul.

 Felix Laner fora presidente da intendência municipal de Caxias, em 1891. Vários componentes da coluna de Belizário eram compostos por membros de pessoas residentes na sede da vila e no interior desta.

O estado maior revolucionário se instalou na quadra onde hoje em Caxias do Sul se situa o hospital Pompéia, em casas das imediações que foram usadas como reduto para entrincheiramento de vários grupos armados que visavam atacar o fortim dos Republicanos.
Assim puderam alvejar a casa da diretoria da colônia que se situava na esquina atual da Av. Marechal Floriano Peixoto com a Av. Júlio de Castilhos e o quartel da polícia (Atual Igreja Metodista) que ficava na esquina da Av. Júlio de Castilhos com a AV. Visconde de Pelotas bem como outros pontos da povoação.

O capitão Francisco Alves dos Santos

Do dito prédio invadido pelos federalistas, Belizário Baptista comandou as operações de guerra. Do quartel de polícia, que acabaria incendiado na retirada os invasores, o capitão Francisco Alves dos Santos comandava a defesa da Vila de Santa Tereza de Caixas do Sul com o 44º batalhão das tropas legalistas.

José Nicoletti

 
José Nicoletti Filho

José Nicoletti nasceu em 24 de fevereiro de 1871 na Itália, e comandava a menor das duas colunas. Na invasão viera oriundo das imediações de Nossa Senhora do Rosário na 7ª légua. Seu agrupamento se formou em São Marcos, também conhecida como terra dos polacos devido a esta região ter sido colonizada por Poloneses.
Nicoletti em seu trajeto passou pelas 14ª,12ª e o travessão(falso) da 8ª légua até chegar a Nossa Senhora do Rosário. Iniciou seu ataque vindo através da 7ª légua e pelo caminho que margeava um antigo banhado na colônia Dalpo, (hoje a represa da hidráulica municipal de Caxias do Sul) passando por um denso matagal mas conhecido atalho na época para a sede municipal.

Metas da invasão

Grupo de colonos italianos.

A meta principal dos maragatos no assalto a sede municipal da vila era obter despojos de guerra e executar lideranças chaves que ali residiam. Muitos conseguiram fugir durante a invasão, mas estavam sendo observados por vigias postos em pontos estratégicos como na Ernesto Alves e no Jardim América, região em que a topográfica beneficiava a observação dos evadidos.

O combate

O combate se iniciou pela manhã e durou praticamente todo o dia e boa parte da noite até que iniciou o processo de retirada das tropas federalistas, estes estavam temerosos pela chegada de reforços republicanos. Quinze horas fora o tempo que os revolucionários ficaram na vila de Caxias, saqueando, incendiando prédios. Houve desde execução, a outras formas de assassinatos.

Os revolucionários saquearam e vandalizaram em geral apenas as casas e prédios comerciais de adversários políticos, e obviamente estabelecimentos públicos ligados ao governo Republicano. Destruíram três edifícios públicos e um particular, o restante fora danos a bens de menor proporção, mas que colocariam a cidade em total desordem.

Praça Dante Alighieri em 1889 com a igreja matriz e o campanário ao fundo.

Os prédios incendiados foram o de uma escola, que situava-se na atual rua Floriano Peixoto defronte ao hoje hospital Pompéia, bem como um estabelecimento do correio e o prédio da coletoria federal de propriedade e de Felix Laner além da residência do mesmo, bem como a casa de comércio de Luís Dalcanalle, ambos republicanos.

Diversos foram os casos de atentados e danos a vida. Diversos conflitos simultâneos no decorrer do dia da invasão, e consequentemente balas perdidas, gerando muitos feridos e mortos.
Documentos posteriores a invasão revelam fatos como o assassinato do napolitano João Sartori, que estava de passagem pela vila de Caxias. Relatado por testemunhas, mesmo pedindo por sua vida e dizendo não fazer parte do conflito, “no tenjo paura”, fora baleado vindo falecer pouco depois devido à gravidade do ferimento.

Houve o registro de uma execução, ocorrido em praça pública, o Chefe do Partido Republicano local, o Tenente-coronel Miguel Antônio Dutra Neto, pai de Paulino Dutra, tesoureiro da vila de Caxias. Durante a invasão, em tentativa de fuga, ele acabaria sendo pego ao sair dos matagais da atual hidráulica, nas terras do conselheiro municipal Ambrosio Leonardelli. Dutra acabaria julgado e executado no local onde fora o prédio em Caxias do sul, da cooperativa madeireira, apunhalado, sendo seu corpo abandonado perto da atual prefeitura da cidade.

Moinho e a serraria de Giuseppe Vaccari, localizada na 9ª Légua.

Na ordem do dia Nº 56, de 1º de julho de 1894, o comandante das tropas legalistas capitão Francisco Alves dos Santos informa no relato abaixo as baixas sofridas
 "...tendo os bandidos deixado em diversas ruas dominadas pelas nossas posições 20 cadáveres, sendo um capitão, um tenente, um alferes, um sargento e dois cabos. E ainda que tivemos a lamentar a morte do distinto Miguel Antônio Dutra Neto, apunhalado e massacrado covardemente pelos miseráveis”.6.


Vista da Praça Dante Alighieri da rua José Montaury.

Outros fatos se tornaram clássicos no município e serão relatados abaixo:

“Sr Victor Feidument fora morto quando transitava pela atual rua Jose Montaury, vítima de uma bala perdida [...] ao assaltarem o estabelecimento comercial do senhor Antônio Moro, num surto de loucura causada pelo conflito, os republicanos se propuseram a incendiá-la com o proprietário preso no seu interior, que se salvou graças a um consenciário maragato através de um ato de piedade despregado uma das janelas enquanto seus colegionários se afastavam do local. Anos mais tarde este Maragato fora novamente ao estabelecimento do sr Antônio Moro se identificou para surpresa e alegria do comerciante, que lhe presenteou com um dos artigos mais caros de sua loja; esta loja se tornaria a outrora conhecida loja Branca de Neve que se situava no centro de Caxias do Sul”7.

Ocorreu o caso de um grupo de maragatos indo incendiar o estabelecimento da coletoria Federal. No exato momento em que riscara o fósforo, o revolucionário sem reação acabaria abatido a tiros, estes oriundos de um fortim republicano mobilizado no prédio da já comentada loja Branca de Neve.

Mapa topográfico do Centro de Caxias



A população se acomodou como pode durante os conflitos. Graças a singularidade geográfica da região foi possível encontrar vários locais para o refúgio.Os principais abrigos se situavam nas ruas José Montauri, Marques do Erval e Bento Gonçalves servindo de porto seguro para vários moradores, em especial, mulheres e crianças.
Devidos as suas características topográficas que a transformaram numa ladeira íngreme, ficando acima   do ponto de tiro dos invasores, situava-se o quartel do contingente do 44º Corpo da Guarda Nacional. Como já dito este corpo de guarda estava contando com apenas meia centena de homens, comandados por Francisco Antônio Alves, que procurou fazer a defesa, juntamente com alguns voluntários republicanos, dando tempo para que a população abandona-se suas casas em busca de abrigo no interior segundo a Professora e historiadora de Caxias do Sul, Maria Abel Machado.

Os grupos revolucionários demonstravam sua heterogeneidade, uma característica desta revolução, não só de grupos étnicos e religiosos. Mediante o relato de vários desacertos tidos entre os grupos que invadiram a vila de Caxias, vimos que o controle dos grupos era efêmero, como exemplo deste fato:

 “dois maragatos num grupo revolucionário  estabelecido entre as rua Pinheiro Machado e Moreira Cezar , estes abatidos a tiros  devido á não acatarem as ordens de seu capitão para parar com o conflito; o sargento Caetano Scaini invadiu à residência de seu patrício Luiz Balconi , sem ser notado sito na rua 20 de Setembro (por volta do número 800) e começou á discutir com este para enviar do outro lado da rua, na loja de Benjamin Cortes em meio ao tiroteio, os seus filhos ,Ricardo  de 05 anos e Palmito de 04 anos, para pegar o açúcar que faltava no café que acabara de solicitar,  o Maragato Antônio Fontana interveio na discussão e ao engatilhar sua carabina na direção de seu companheiro de causa disse quem quiser açúcar que vá pegar encerrando a discussão” 8.

Mas de quem era constituído as fileiras Federalistas de 1893. Os revolucionários no ataque a vila de Caxias, eram constituídos por uma massa de grupos étnicos diversos, e das mais variadas origens e posição sociais.Observamos grupos de italianos Tiroleses, e da região do Venetto, Bugres e castelhanos, entre outros.
 Todos direta ou indiretamente ligados a conflitos regionais ou em seus países de origem. Tinham em sua maior fileira mais de uma centena de poloneses, os quais pelo menos uma dezena morreram nos primeiros conflitos. Eram tantos os mortos, que foram sendo recolhidos por uma carreta, conduzida por Pedro Rissardi.



Carreteiro tipico da época.

Os corpos acabaram sendo atirados em uma vala coletiva, construída pelos governistas14   da Vila, que segundo populares, improvisada em um banhado existente outrora na região entre a rua Pinheiro Machado e a várzea do Estádio do Juventude. Os corpos que não forram prontamente recolhidos pela carreta conseguiram ser sepultados no cemitério da região de São Marcos de onde seriam oriundos.



Local do estádio da várzea do E.C Juventude.

Rosalina Dal’Alba Rech, sobrinha de José Nicoletti Filho, afirmou: “Houve muito polonês morto nessa guerra de 1893. Foram sepultados na atual Praça Dante Marcucci”.
Vários dos poloneses em batalha que pertenciam ao grupo de José Nicoletti, um grupo instável que se envolveu em toda a espécie de confusão e desordem no decorrer da invasão. Ao saírem em retirada já embriagados foram efetivando disparos, depredando e retaliando a quem julgavam ser da causa Republicana.
Na  praça Rui Barbosa, um trio destes poloneses Maragatos se envolveram em um longo tiroteio com um fortim governista improvisado nas imediações do centro da vila.

Prédio da diretoria de comissão de terras de Caxias alvejado pelos revolucionários.

Os danos materiais a propriedade de funcionários públicos ocorreram de forma mais acentuada que aos laicos da Vila. A casa de Luciano Courtois, fiscal da comissão de terras, foi incendiada, mas poupada fora a sua vida. A residência era situada na área do edifício Luluzinha que ficava ao lado da Sociedade Caxiense de Mutuo Socorro,

Devaneios por parte de alguns maragatos, fizeram com que surgisse um sentimento contrário a causa dos revolucionários. Exemplos como o do maragato Carigo Fontana que numa investida alucinada contra um anel valioso pertencente a esposa de um fiscal da intendência da vila.  Como o maragato não conseguia retirar o anel, optou por decepar o dedo da mulher, o que causou revolta até de seus companheiros, que acabariam de lhe impedir de cometer tal ato.

Apesar dos crimes de guerra, como assassinatos e execuções sumárias não foram obtidos registros de abusos contra mulheres durante a invasão.

A RETIRADA

Após a invasão ter se consumado, grupos de maragatos iniciaram a divisão dos objetos adquiridos durante o saque. Ao menos três dezenas de revolucionários morreram no ataque e foram deixados para traz.Assim ficaria evidente que vários aderiram as forças revolucionarias apenas para obter bens, agindo como mercenários não como revolucionários.

Os maragatos chefiados por Nicoletti partiram em direção da 7ª légua e lá fizeram um leilão dos espojes do saque à vila de Caxias. O Major Nicoletti mesmo sendo Tirolês, não respeitou seu patrício e vizinho João Goubert despojando-o completamente de seus bens e de traumatizar sua família com
á violência empregada:

“João Goubert era oriundo de Nossa Senhora do Rosário, na região de Caxias do Sul, que em seu desespero maior viu em meio à invasão uma de suas filhas ficar em estado de choque[...] e posteriormente em estado mental abalado [...] em 1915, onde fora levada à Nova Vicenza (hoje Farroupilha) na igreja Nossa Senhora do Caravaggio e lá tratada pelo padre Giacono Bruttomesso que á curou, vindo a falecer á poucos anos sem nenhuma sequela” 9.

Galópolis 

Origens do Vale Profundo

Galópolis.

O povoado de Galópolis surgiu em 1892 com a vinda de italianos oriundos da região de Schio e que imigraram para o Brasil em consequência de um movimento grevista dissolvido à força pelo Estado italiano em favor da classe patronal. Dos 308 tecelões grevistas que imigraram para o Brasil, alguns chegaram ao Rio Grande do Sul e se fixaram em várias cidades, entre elas, Caxias do Sul.

Galópolis era conhecida, à época, como Cascata da 4ª Légua, Desvio do Monte   ou Vale Del Profondo (abismo). Os imigrantes que ocuparam a região perceberam que, devido ao relevo montanhoso, a área não era propícia para a agricultura. Os dois rios do lugar representavam a possibilidade de movimentar máquinas e gerar energia elétrica, além de ser útil no serviço de lavagem e tinturaria.

Os imigrantes organizaram uma rudimentar tecelagem, e assim que surgiu primeiro lanifício, uma sociedade nos moldes de uma cooperativa, em 1894. A fábrica produzia chalés, palas, panos e fatiotas. Em 1903, Hércules Galló intendente do Município se juntou ao grupo de empreendedores, assumindo o comando do lanifício e dando nome ao distrito.

Os conflitos de 1894

Grupos de revolucionários ao sair de Caxias e ao passar pela 9ª légua em Nossa Senhora das Neves, saqueou uma casa de negócios pertencente a Luiz Adami, e em meio à uma discussão, quando os maragatos estavam o ameaçando de degola, sua esposa grávida acabou parindo, o que afinal, acabou salvando suas vidas.

Alguns maragatos a esmo continuavam nos meses decorrentes com suas façanhas pela região de Caxias, como em Galópolis. Depois dos conflitos na sede municipal de Caxias, vários federalistas se espraiaram por diversas regiões como a de Galópolis, onde um desentendimento causou à morte do enfermeiro Carbonário Amábile em novembro de 1894.

Amábile



Afonso Amábile já era conhecido desde o tempo do governicho por ser de ideais revolucionários e por ter participado dos primeiros conflitos na então gestão municipal de Caxias. Era de origem italiana natural da Calábria e em Caxias chefiou as duas revolução caxienses contra o governo da legalidade.

Após findar a revolução de 1893, Amábile que tomara parte do grupo dos Federalistas, sempre foi um incomodo as autoridades governistas da Vila de Caxias, quer de colonização quer municipais, por fim acabou assassinado.
Amábile fora morto por um de seus companheiros de façanhas a entrada da vila da Galópolis a Caxias, segundo a versão oficial, depois de se embebedarem e discutirem sobre pilhagens. O seu corpo fora despido suas roupas confiscadas, e posteriormente colocado num saco de linhagem de carvão. Acabou sepultado debaixo de um laranjal que existia a direta da estrada de acesso à vila de Galópolis pelo Italiano Antônio Pizzolatto.

Vista de Galópolis.


A REAÇÃO REPUBLICANA


Os revolucionários estando bem distantes da região, a segurança da Vila de Caxias começou a criar diversos pontos de guarda em locais estratégicos nas entradas que levariam à vila e as mantiveram por vários meses temerosos por novos conflitos. Há vários relatos da época da revolta, geralmente feitos por republicanos (chimangos), homens das forças legalistas que combatiam ou estavam do lado do governo e passaram a história do seu ponto de vista tentando colocar os maragatos como monarquistas, salteadores, bagunceiros, entre outros sinônimos.

 A guerra trouxe mortes de ambos os lados. Crimes bárbaros e assaltos foram ações praticadas pelos dois exércitos. As atrocidades eram cometidas pelos dois campos inimigos, como o roubo, a degola, a violência, o estupro, as perseguições e a invasão dos direitos eram praticados tanto por um, como pelo outro lado. Assim, também, como atos de valentia e heroísmo, solidariedade e companheirismo.

Os maragatos lutavam com táticas de guerrilha, estando batalhando sempre em movimento, sendo constante a pobreza, a fome e a falta de armas e vestuários. A guerrilha era utilizada porque o poder de suas armas eram inferiores, mas como conheciam muitas regiões (entre elas a serrana) melhor do que os legalistas, em suas andanças, precisavam ter boa receptividade da população para ter sua simpatia, auxiliando na requisição dos animais e não serem denunciados ao governo. Desta forma, quanto menos atrocidades os maragatos causassem à população mais retorno teriam em auxílio. Assim:

“Era impossível para um “exército” desprovido de condições materiais lutar de igual para igual com as forças legalistas, as quais recebiam forte financiamento dos cofres públicos. A guerra de guerrilha, no entanto, envolve o conhecimento de uma série de noções específicas e, dentre tais saberes, destacam-se o conhecimento detalhado da geografia para facilitar a mobilidade das tropas, a “recusa em lutar nos termos do inimigo” e, principalmente, “ter a simpatia e o apoio, ativo e passivo, da população local. ” 10.

Somente em 3 de julho chegariam os reforços a Caxias do Sul, compostos de parte do 30º Batalhão de Infantaria e 20º Corpo da Guarda Nacional de Mostardas, comandados por Benjamim Moreira Alves, restabelecendo a ordem e a tranquilidade e garantindo o retorno da população a seus lares.

Todavia, os ânimos continuaram exaltados, bem como as rivalidades provocadas pela Revolução, acirrando entre os contendores, que não perdiam oportunidades de demonstrá-los. Assim ‘a anarquia e a animosidade reinavam no espírito dos habitantes de Caxias, muitos dos quais faziam ostentações de influências políticas.


Oficiais da Brigada Militar em 1893

O governo do estado mandaria mais reforços para Caxias, com os batalhões 13ºe 25º de infantaria sob o comando do Coronel Antônio Carlos "Chacha" Pereira. O nome era de peso, em 1892 o então vice-presidente Dr. João de Barros Cassal criou o corpo de guarda Policial rio-grandense, sendo este o primeiro comandante, esta instituição fora a antecessora da Brigada militar.

barracão do imigrante

 O general Chacha se aquartelou na rua cel. Flores esquina com 18 do Forte, no barracão do imigrante. Em sua chegada trousse consigo algumas famílias, que saíram antes da invasão e agora se sentiam mais protegidas.
A força empregada sobre supostos desordeiros, condenados sem serem julgados pelo Cel. Chacha exaltou os ânimos da populações das colônias, para uns fora um herói para outros um carrasco. Atitudes que dividiam os grupos de imigrantes, colocando reticências quanto as tropas do governo, principalmente em Santo Antônio da Patrulha e dos campos de cima da serra.

Chacha Pereira foi uma figura muito discutida de personalidade temperamental e persistência desenfreada. Como capitão das forças castilhistas na Revolução Federalista, comandou as tropas várias vezes para libertar as demais vilas e povoados no Estado em poder das forças revolucionárias e de grupos de desordeiros, que praticavam roubos e atrocidades em nome da revolução.

 Fora temido, sanguinário e temperamental, mandava degolar ou fuzilar prisioneiros, mesmo havendo, entre seus comandados, em nome das forças republicanas, desordeiros que praticavam crimes, roubos e requisições de bens, sem autorização do comando geral.
Foi capitão do 32° Batalhão de Infantaria, ferido no pé esquerdo na Guerra de Canudos, em 1897. Terminada a Revolução o Cel. Chacha foi eleito Deputado Estadual e faleceu em sua terra natal, Taquari.

Vários foram os maus tratos á estrangeiros, principalmente os da mesma origem étnica dos revolucionários. A xenofobia aos simpatizantes e pessoas ditas de estranha conduta, beirava a paranoia. Se um vulto não se identifica como camarada, seria alvejado sem previa sentença, para só depois se averiguar suas origens e intenções.

As tropas governistas agiram de forma muito rigorosa e por vezes brutal na região, realizando diversas atrocidades, á prisioneiros e pessoas acusadas de rebeldes.
Ha região colonial de São Marcos, seria vista daí por diante, até ao menos o final da revolução, como zona de desconfiança, o que acabou gerando um armamento generalizado dos populares de ambos grupos.

 Foram presos vários federalistas, sendo estes levados ao barracão da 18 do Forte, muitos destes julgados e condenados ali mesmo a degola, sendo efetivado o ato no mato da madeireira e ali mesmo sepultados.

Uma das atrocidades ali registradas fora:                                                  
  “... á degola de um Maragato de nome Lídio e seu filho de 12 anos pelo Tenente coronel Mangabeira, este efetuou á degola mesmo entre os prantos primeiramente da criança bebendo logo após seu sangue e disse “eta sangue bom o deste maragatinho”, o pai da criança ao ver a cena desmaiou e ali mesmo no chão fora degolado; este fato fora vivido e narrado pelo senhor João Leonardelli que faleceu em 1969.”11.

O governo do Estado tentou de todas as formas amenizar as perdas ocorridas pelo conflito tanto material como perdas humanas. Á intendência de Caxias colocou à disposição recursos aos cidadãos patriotas que alojaram republicanos durante os períodos de alarme que ocorreram no mês de Novembro nos dias 25,26,27e28 e 1º de dezembro de 1894, como Josephina Rech. Vários foram os cidadãos que serviram provisoriamente como guardas municipais nos meses de alarme.

Os rumos do conflito

Após quatro meses na região o comandante Chacha Pereira retira-se da vila de Caxias, deixando cerca de 35 praças republicanos para manter à ordem, mas agora sob o comando do Tenente Athanagildo de Alencar.
A cúpula dos republicanos depois deste período chegou à conclusão de que não havia mais perigo de novos conflitos na região colonial serrana, por isto ordenou a retirada da maioria das tropas dos então chamados republicanos, Pica-paus.
No final da revolução federalista em agosto de 1895, vários combatentes voltaram para suas antigas regiões coloniais. Isso geraria inúmeros incidentes, como atentados e trocas de facções, para na maioria dos casos com o intuito de preservar sua sobrevivência.

Em Caxias pós os acontecimentos da revolta, ocorreu um armamento generalizado, com a obtenção de armas oriundas principalmente de Santa Cruz do sul, estas tendo sido compradas pelo Intendente da Vila e distribuídas aos populares habilitados e leais a causa republicana.

Destino dos revolucionários



José Nicoletti Filho findando os conflitos, ingressou no PRR o que causou o ódio em seus antigos companheiros sofrendo várias represarias.
Conseguiu a redenção ao prestar serviço militar para o governo republicano, onde atuou duramente. Em 1923 durante a Revolução assistida novamente veio se salientar na agora moderna Cidade de Caxias do Sul, quando prestou serviços valiosos, como chefe das forças legalistas. José Nicoletti faleceu em Gramado no dia 05 de dezembro de 1937.

Praça na atual cidade de Gramado homenagem de Major Nicoletti.

Em sua homenagem está a construção da Ponte do Raposo que hoje leva o nome de Major Nicoletti, além de uma praça na atual cidade de Gramado, segundo as fontes obtidas pela Historiadora Marília Daros.

   Vila Oliva fora sede das terras de Belizário Batista

Belizário Batista, já anistiado, em 29-12-1895   sofreria um atentado quando este estava hospedado em Caxias. Ao passar em frente de um estabelecimento comercial na área onde atualmente está a Av. Júlio de Castilhos, acabaria sendo alvejado por um projétil que o atravessou na altura do mamilo direito e saiu pelas costas,
O autor do atentado teria sido Paulino Dutra, filho do Miguel Dutra. Belizário fora socorrido e levado posteriormente na presença do médico da vila na época, o Dr. Guido Levi, que residia também na Júlio de Castilhos com Borges de Medeiros, onde apesar dos ferimentos, se curou rapidamente.

Por muitos anos aconteceram atos vingativos em função daquela revolução.
Também segundo relato oral da família Baptista, Belizário na época da invasão entrou na cadeia pública para “livrar” um velho companheiro preso durante a revolução de 1893, então o Miguel Dutra teria sido ferido mortalmente no combate, versão diferente de outros relatos da época.

Depois das campanhas militares foi viver em suas terras na Zona do Raposo, que depois seria chamado de Vila Oliva (hoje distrito de Caxias do Sul), e de acordo com relato do Professor Mário Gardelin, Belizário levou um coice de porco que lhe rasgou o ventre. A ferida infeccionou e foi levado de carreta para Caxias do Sul, mas não resistiu e acabou morrendo em 28-09-1927.


Moinho d’agua de Caxias do Sul.


O saldo do conflito no Rio Grande do Sul



Muitos dos que posaram para esta foto tiveram seu papel na revolta de 1893 e em demais fatos históricos no decorrer da década de 1890.Desde membros atuante a divulgadores dos fatos presenciados.

Á revolução a nível Estadual se findou em agosto de 1895, e seu saldo fora á perca de 11% da população gaúcha. Muitas das localidades foram arrasadas com o conflito e como elas os federalistas e sua oposição ao governo de Júlio de Castilhos.

Á oposição estava aniquilada, seu mais valoroso chefe militar Gumercindo saraiva que retornava de suas campanhas pelo Paraná em direção da fronteira com o Uruguai fora morto em uma emboscada.
Fora massacrado e esquartejado pelos legalistas como exemplo aos demais revolucionários que quisessem pegar em armas.
Os demais líderes, partiram para o auto exílio seguidos de aproximadamente 10 mil correligionários que também atravessaram a fronteira do Uruguai e Argentina.

No Brasil inteiro, nenhum grupo republicano conseguiu como o gaúcho desbancar à oligarquia tradicional como aqui no Rio Grande do Sul, e sem ceder a nenhuma de suas exigências. Portanto se mantendo hegemonicamente no poder até 1929 no início da era Getúlio Vargas.


RODAPÉ
*1,2,3,6,7,8,9,10,11- ADAMI, João Spadari: História de Caxias do Sul 1864-1964. Editora São Miguel primeiro Tomo; Caxias do Sul; RS, 1964;
* 4-SILVA, Marcio Antônio Both da. Notas sobre a Revolução Federalista;
* 5-Professoras Loraine Slomp Giron e Heloisa Bergamaschi apontaram fatos que aconteceram durante a revolução de 1893 em Caxias do Sul em relatos da formação.

By Marcos Toffoli


Monografia de TCC da FAPA- Faculdades Porto-alegrenses Julho de 2003.

REFERÊNCIAS


WEB
http://historiadaqui.blogspot.com.br/

http://caxiaspormancuso.blogspot.com.br

http://wp.clicrbs.com.br/memoria/tag/arquivo-historico-municipal-joao-spadari-adami

www.tonybel@uol.com.br

http://www.rodrigotrespach.com/2015/10/05/maragatos-em-caxias-do-sul/

http://historiadaqui.blogspot.com.br/2013/10/caxias-centenaria-de-campo-dos-bugres.html

Bibliográficas;

ADAMI, João Spadari: História de Caxias do Sul – I tomo: 1864 – 1970. Caxias do Sul: Edições Paulinas, 1971,

OLIVEIRO VIANA. José Francisco: Populações meridionais do Brasil segundo volume: Livraria José Olympio editora, Rio de janeiro RJ,1952

HISTÓRIA ILUSTRADA DO RIO GRANDE DO SUL, série de 20 fascículos, projeto e execução JÁ editora; Porto Alegre.RS;1998

MUSEU MUNICIPAL; Arquivos Históricos de Caxias do Sul; arquivos da intendência de Nossa Senhora de Santa Teresa De Caxias do Sul; Mapoteca.
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Dalcin Barbosa-Fidélis -História do Rio Grande do Sul

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Almeida Simões-Moacir -BRIGADA MILITAR: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E EVOLUÇÃO NA
CONSTITUIÇÃO


















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