Introdução
Vila de Santa Tereza de Caxias em !876.
Em 20 de junho de 1890, por ato do governo estadual, o então
distrito de São Sebastião do Caí foi emancipado, ou seja, tornou-se município e
passou a denominar-se Vila de Santa Tereza de Caxias na época do conflito de
1893. Ainda em 1890, em 06 de novembro, tornar-se-ia Comarca Judicial. Dessa
forma, o Termo de Santa Tereza de Caxias ficaria, então, dividido em três
distritos: a sede na Vila de Santa Tereza de Caxias, o distrito de Nova Trento
e o de Nova Milano.
Vila de Santa Teresa de Caxias do Sul, assim se chamava
a atual cidade de Caxias do Sul situada na serra gaúcha moderno e importante
pólo metal mecânico do Estado do Rio grande do Sul. Fundada por colonos
em grande parte oriundos da Itália no final do século XIX, de tradições
firmes, mantendo vivas sua história e cultura.
Aqui falaremos de sua participação num dos mais sangrentos
combates do século XIX e da maior guerra civil que o Brasil já conheceu em sua
história, bem como as causa e consequências desta para a região o Estado e o
Pais num futuro não muito distante dos fatos aqui citados.
Primeira Parte.
A NARRATIVA DO CONFLITO
Tropas Legalistas cena parcial da fotografia
Em uma tarde chuvosa no final do mês de julho, um batalhão a
cavalo seguia por uma picada que costeava uma cadeia de montanhas! A chuva era
caudalosa e o vento frio fazia encharcar o pala de lã, fazendo-o gotejar pela
cela de palha e pelegos indo parar nos calcanhares das botas de couro já muito
batidas. O grupo mal consegue enxergar a beira do despenhadeiro que faz limite
com a picada, mas como alguns residem a anos na região serrana sabem como se
portar nestas condições e guiar os demais.
Cada passo era calculado, além das dificuldades geográficas da
região os guerreiros estavam em alerta, já fazia um ano que havia escaramuças
contra os rebeldes por todo o Rio grande, e sabiam sobre grupos armados que os
esperam na região dos campos de cima da serra. Procuravam uma facilidade
topográfica para montar acampamento, os cavalos já estavam cansados e tudo o
que a gauchada tinha para comer era um pouco de charque e salame, e para dar
força e coragem, a velha e boa cana. Estavam acostumados com a rispidez da
região, mas assim mesmo foram autorizados pelo governo do Estado a recolher os
viveres, animais e utensílios que fossem necessários durante a marcha, dos
moradores já destituídos dos mesmos pela costumeira geada e por vezes neve da
região, mas também pelo vandalismo federalista e por outros batalhões que
passaram no outono. A fome por vezes não era opção do vivente naquele período.
Cena parcial de uma Pintura estilizada sobre os combatentes.
Em pleno inverno, a garoa e o minuano batendo pelos flancos
ensopando a aba do chapéu, ascender fogo estava fora de questão, quanto mais
tomar o mate para se aquecer, e a noite estava caindo bem rápido, devido à
época e o tempo fechado. O caminho já bem acidentado normalmente, estava
completamente embarrado e se um cavalo prendesse a pata num destes atoleiros
poderia levar perigo, para não dizer fatalidade, tanto para montador e
montaria. Os cavalos devido a vários dias de marcha estavam com os cascos
machucados com ferraduras avariadas ou já sem as mesmas, bem como machucados
pelo abdômen pelo peso e fricção da sela. Devido a marcha forçada, por vezes o
peão tinha de descer da montaria e caminhar guiando seu pingo pela trilha assim
ensopando as botas e criando feridas no tornozelo, sola e dedos dos pés.
Vila de Santa Teresa de Caxias do Sul em !889.
O grupo estava bem armado, alguns treinados na capital do estado,
outros recrutados junto a moradores aptos para combate na própria região. Todos
com o intuito de proteger as colônias de imigrantes como a vila italiana de Santa
Tereza, de onde veio o pedido de auxilio inicial. Três batalhões sob comando do
coronel Antônio Carlos Chachá Pereira haviam se aquartelaram no centro desta vila nos meses
anteriores, para posteriormente mas partiram para um suposto encontro de Gumercindo Saraiva que iria para Vacaria mas que acabou indo para Santa Catarina e não
para Porto Alegre, e assim passando pela Vila de Santa Tereza, como era
previsto pela inteligência militar.
Tropas Federalistas
Dois grupos armados compostos de simpatizantes federalistas,
milicianos e oportunistas por saques, usaram da guerra civil que assolava o
Estado como pretexto, para se aproveitarem do pequeno contingente deixado na
vila, e a haviam invadido no final de Junho de 1894. Estes grupos armados causaram
caos nessa região por cerca de 15 horas, além de assassinatos e roubos, para depois
seguirem para a região norte do Rio Grande, talvez com o intuito de se somar as
tropas do caudilho que vinha do Uruguai, Gumercindo Saraiva, com cerca de 1200
homens entre os quais 400 cavalarianos.
Os rios se tornam caudalosos na época, ficando difícil de
vadear e por vezes obrigando os soldados do batalhão da então recém fundada
Brigada Militar a terem de contornar as montanhas da região. O frio se intensifica
a cada dia que se passa, pois estavam no auge do inverno e a mata extremamente
fechada dificultava a marcha, algo bem diferente para quem entre os combatentes
fora criado na região da campanha do Estado.
Colônia na região de Raposo
Ocorreram várias escaramuças pelo trajeto a vila polaca de São
Marcos, pertencente ao município de São Francisco de Paula, cujos habitantes em
parte simpatizavam com a causa dos maragatos, bem como já havia ocorrido na 5ª,
6ª e 7ª léguas da região e em Raposo com colonos revolucionários de origem
Tirolesa e Italiana.
Demarcação das léguas na região serrana
Muitos moradores não receberam bem a passagem do pelotão por
sua localidade, pois souberam que bem como os rebeldes federalistas os
republicanos do governo Estadual usaram de igual violência como moeda as
atrocidades cometidas pelos combatentes com os capturados. A cultura da elite
gaúcha de cunho mais democrático dos Farrapos diferiu em gênero e número do
padrão áspero e bronco da cultura da fronteira, onde inimigo bom era inimigo
morto, e nada melhor para motivar as tropas, principalmente contra deserções,
do que punições exemplares a vencidos e desertores. Infelizmente os derrotados,
foram humilhados e empobrecidos, e o saldo nesta guerra civil que matou 1 em
cada noventa habitantes do estado(no início dos anos 1890 o estado tinha cerca
de 900 mil habitantes) em pouco mais de dois anos de conflito fora muitos
ressentimentos suprimidos, estes para serem resolvidos em outra oportunidade,
como a que ocorreria 30 anos mais tarde.
Gumercindo Saraiva
SEGUNDA PARTE - A REVOLUÇÃO EM SI
INTRODUÇÃO
Antes
de tudo devo situar o leitor no tempo que desencadeou o conflito
armado de 1893 no Rio grande do Sul. A revolução federalista de
1893 teve o nome dado devido ao conflito associado ao partido
federalista fundado por Gaspar Martins.
Gaspar Martins era principal
rival político de Júlio de Castilhos que governou o Estado após um
conturbado período de tempo pós proclamação da República (pelo
Marechal Deodoro da Fonseca), um adepto da ditadura Comtiana a qual a
implementou no período pós guerra civil.
Este
conflito marcaria bases para outra guerra civil no estado em 1923 mas
desta vez o tornaria unido e pronto para algo maior como o golpe
armado de 1930 efetuado por Getúlio Vargas.
BASES
DO CONFLITO
Depois
de 1889 após a proclamação da República, no Rio Grande do Sul
dois caudilhos¹ entraram em conflito pelo poder regional após a
queda da monarquia.
Gaspar
Martins
prestigio e poder devido à recente urbanização e industrialização, principalmente nas colônias alemãs e italianas do norte do Rio Grande do Sul.
Júlio de Castilhos
Júlio de Castilhos, era líder do partido Republicano, e representante do meio urbano. Eram base da elite intelectual do estado e baseado as Ideias de Comte² desejavam implementar sua base teórica de progresso e condução das massas no Rio grande do Sul.
Ambos
defendiam ferrenhamente seus ideais que no papel tendia para o
federalismo entre os estados da nação, mas as elites envolvidas
minaram qualquer acerto, e para tanto, usaram dos piores e por que
não cruéis meios coercivos e repreensivos para com o inimigo. Isto
marcaria a história gaúcha criando profundas cicatrizes entre as
partes combatentes.
Preludio
do Conflito
Como
o posse após a vitória em uma eleição suspeita, de Júlio de
Castilhos para o governo do Estado, encerra-se o período de inúmeros
governadores do Estado em sequência, o chamado governicho³, que
vinha demonstrando o conturbado período político de disputa entre
as parte iniciado em 1889.
As
principais reclamações dos federalistas eram com relação as
eleições, eleitos os líderes do PRR, estes sempre em cima de
fraudes e manipulação de eleitores.
O
voto era restrito aos poucos que naquele período sabiam ler e
escrever, vetado a mulheres e sendo de caráter aberto. Geralmente
cerca de 2% da população acabava votando (cerca de 18 mil pessoas).
Durante as averiguações se verificaram que até mortos estavam
votando, sem contar que geralmente eram os próprios Republicanos que
faziam as contagens.
Poucos
sabiam expressar sua frustração e reclames mesmo tendo o direito de
assim proceder legitimado, assim o faziam por ignorância e por vezes
medo mesmo. Os órgãos de reclames entre outros do Estado, eram
administrados por republicanos direta ou indiretamente o que por si
só já seria um grave entrave.
Auguste Comte
O PRR (partido Republicano do Rio Grande do Sul) ao iniciar sua forma de governo se impõem irrestritamente contra toda e qualquer forma oposta ao seus ideais. Se colocam como o único meio político para a continuação republicana no estado. Os membros criaram uma monocrácia Comtiana com elevação da figura de Júlio de Castilhos como herói, mascarando na realidade,
um regime ditatorial, assim
legitimando a auto perpetuação do partido no poder. A constituição
gaúcha se diferenciava em gênero e numero as do resto do pais por
ter bases positivistas⁴ reguladores
do legislativo e judiciário, estando o poder de promover leis nas
mão do executivo.
As
leis, criadas por Júlio de Castilhos, assim o foram para se
perpetuar no poder, por tanto a decisão final sobre qualquer assunto
mesmo se não agradava a população do estado. Neste período o
estado e PRR se fundem em um único corpo.
A
repreensão
Tropas
da Brigada em Bagé
Os
opositores eram idealizados como revolucionários que queriam a volta
da monarquia e eram supostamente coligados com uruguaios que tinham
como meta desestabilizar o estado Gaúcho e dominar a região sul do
Brasil.
A
construção de um inimigo externo, uma ameaça iminente proporcionou
a criação de leis que criaram uma milícia paralela ao exército
Brasileiro, a Brigada Militar(1892). Este exército regional recebera
apoio do governo central, seria bem armado e treinado visando
proteger as “fronteiras”.
A
brigada militar só recebia ordens direta do governo do Estado, por
tanto, este tinha uma milícia bélica sob seu comando. Fora as
fronteiras tinha por meta proteger os centros urbanos, reprimir
revoltas monarquistas e foi amplamente usada no combate aos
revoltosos entre 1893 e 1895.
Tropas federalistas
Os
federalistas além de mal equipados, em geral só de posse de lanças
e facas domésticas e armas de fogo antigas, poucos detinham cavalos
e bem menos ainda, noções táticas militares. Eram um grupo muito
heterogêneo, sendo composto pelos Federalistas propriamente ditos,
parlamentaristas, monarquistas, caudilhos e milicianos, antigos
combatentes, e grande massa de pessoas influenciadas por um ou outro
grupo, compostos geralmente por pobres e analfabetos sem nenhuma
experiência bélica.
Influência
externa
Área de fatos importantes do conflito de 1893
Com
uma evidente preparação para uma guerra civil, entre federalistas e
republicanos, o embaixador americano informou Washington que o
conflito poderia afetar a hegemonia do Império Britânico no Sul da
América do Sul. O Uruguai estaria interessado no conflito, no caso
de vitória dos federalistas, por estes estarem muito ligados a
cultura e o comercio da fronteira. Uma união estaria cogitada entre
o pais platino e o rebelde Rio Grande, e seria incentivada e
protegida pelos americanos, com o intuito de abrir o mercado para os
Estados Unidos no rio da Prata.
A GUERRA CIVIL DE 1893
O desenrolar dos conflitos... no segundo artigo a conclusão do Artigo...
FONTES E DICIONÁRIO HISTÓRICO
FONTES E DICIONÁRIO HISTÓRICO
1- Os caudilhos eram lideres oligárquicos de elites rurais e ou urbanas detentoras de
grande poder econômico que ditavam os tramites legais, políticos e
miliciano paralelamente ao poder do estado nacional.
2-
Augusto Comte, Francês idealizador do positivismo na metade do
século XIX, onde se tem os lideres intelectuais e de importância
para a humanidade exaltados numa espécie de culto humanista. Visando
seu criador a substituição de valores pregados por religiosos por
valores palpáveis e reais para a construção da história humana.
Comte pretendia resolver os conflitos entre capital e trabalho, assim como Marx, mas ao contrario deste o proletariado não era o foco, mas sim sábios iluminados, atravéz de uma ditadura republicana. Para o pai do positivismo Somente estes lideres poderiam se colocar acima dos interesses no intuito de unir classes divergentes.
Templo Positivista - Porto Alegre, a capital gaúcha, próximo ao parque Farroupilha possui um dos cinco templos positivistas do Mundo ainda em atividade. Estes pregam o amor e reverencia aos parentes, sábios e todos aqueles que proporcionaram melhorias e progresso para a humanidade!
Comte pretendia resolver os conflitos entre capital e trabalho, assim como Marx, mas ao contrario deste o proletariado não era o foco, mas sim sábios iluminados, atravéz de uma ditadura republicana. Para o pai do positivismo Somente estes lideres poderiam se colocar acima dos interesses no intuito de unir classes divergentes.
Templo Positivista - Porto Alegre, a capital gaúcha, próximo ao parque Farroupilha possui um dos cinco templos positivistas do Mundo ainda em atividade. Estes pregam o amor e reverencia aos parentes, sábios e todos aqueles que proporcionaram melhorias e progresso para a humanidade!
3- GOVERNICHO- Caos político e falta de lideranças políticas e ideológicas estáveis para governar o estado do Rio Grande do Sul entre 1892 e 1893.
Essa fase da história gaúcha do "governicho" é bastante
complicada. O presidente indicado por Floriano, Demétrio Ribeiro, lentamente se
reaproximou de Castilhos e foi afastado em 08 de junho de 1892, assumindo como
presidente provisório, José Antônio Correa da Câmara, e como vice-presidente,
Francisco da Silva Tavares. Porém, em 17 de junho de 1892 Júlio de Castilhos
depôs o "governicho" e assumiu o governo por um dia, indicando
Vitorino Monteiro como seu vice e governante interino até as eleições, às quais
ele mesmo era candidato.
Portanto, a partir de junho
de 1892, houve duplo governo no estado, com Francisco da Silva Tavares (em
Bagé), e Vitorino Monteiro, depois sucedido por Fernando Abbott (em Porto
Alegre). Essa situação perdurou até a posse do segundo governo de Júlio de
Castilhos, em janeiro de 1893.
4-Positivismo-
Ideologia criado por Augusto Comte afirma que o
conhecimento humano seria limitado exclusivamente aos fenômenos e
que mesmo esse conhecimento seria relativo ante análise e
experimentação. Rejeita todos os fenômenos metafísicos. Este
mesmo conhecimento humano em sua evolução social passa por três
estágios, o Teológico (ação de uma vontade suprema), o
Metafísico (Fenômenos atribuídos a abstrações ou a causa) e
o Positivismo(Razão). O positivismo advoga a classificação
das ciências por meio experimentais e históricos além de uma
sociologia baseada num altruísmo utilitário. Base de um culto ao
ser humano sem cunho religioso retornando ao estado teológico da
razão como base.
Parte do meu trabalho de TCC da Faculdade Porto-Alegrense FAPA complementado e atualizado, para que gosta de Micro história! Espero que aproveitem!
ResponderExcluirDia o3 de Junho de 2015 postei a segunda parte, da monografia, a parte que da as ideis sobre o conflito!! A ultima parte é sobre a revolta na vila de Santa teresa propriamente dita, com os envolvidos e visão geográfica do conflito em 1894! Aguardem os interessados!
ResponderExcluirSobre este assunto, caro Toffoli, eu - tão amante de história como o amigo - escrevi um romance, 1893 - A Soma De Todos Os Ódios', no qual, em forma de romance, descrevo a fratricida revolução federalista.
ResponderExcluirNa realidade, houve poucos embates e mortes na parte intestina do nosso estado. A coisa pegou forte nas áreas fronteiriças, em Santa Catarina e no Paraná. Somando tudo, não deve ter havido mais de 100 mortes na tua região e na região do vale do Taquari. Poucas, perto das 10 mil mortes havidas nos 850 dias de conflitos, muitas das quais produto das facas afiadas de Adão Latorre e do Firmino de Paula. Abraços e parabéns por este teu belo blog.
Muito bom.recomendo a qualquer pessoa interessada no assunto. Nao me agrada estudar este periodo.mas acredito que ao ponto de conterraneos lutarem numsa guerra sangrenta como esta os motivos eram bem graves,me faz lembrar nossa politica atual nacional ,fraudes em eleiçoes de uma parte adeptos de comte do outro e aos poucos esquecem a real democracia e o povo tendo de escolher o menos pior..quando esquecermos o socialismo e o positivismo e nos voltarmos a real democracia progrediremos de fato como nação..
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