Como se formam os elementos
intermediários no centro das estrelas
Curiosamente,
foi Fred Hoyle, o adversário mais ferrenho do modelo do Big Bang, que comentou
que todo o hélio que existe hoje não poderia ter sido gerado nas estrelas. Como
ele mostrou, se isso fosse verdade, a energia liberada na formação desses
núcleos de hélio faria com que nossa galáxia fosse 10 vezes mais brilhante do
que são atualmente.
O
Big Bang só produziu o hidrogênio, o hélio e uma minúscula quantidade de lítio.
Com o rápido resfriamento do universo em expansão, não houve tempo nem
condições para a síntese dos outros elementos. Mas, é claro que eles existem.
Núcleos de elementos só podem ser produzidos em locais muito quentes e densos.
No universo depois do Big Bang os únicos lugares com tais características são
os centros das estrelas. De fato, as evidências espectroscópicas colhidas pelos
astrofísicos mostram que os núcleos dos elementos são rotineiramente produzidos
nas estrelas.
As
estrelas de pouca massa como o Sol, formadas de hidrogênio e hélio, sob
condições de massa e temperatura do seu centro possibilitaram a formação de
átomos mais complexos como carbono, nitrogênio, silício e até o ferro.
Tais
elementos mais complexos permaneceram nos centros estelares e, mesmo que estas
se tornassem gigantes vermelhas e então sucumbissem, mantinham em seu núcleo
confinado tais elementos.
Só
na explosão de uma supernova é que os átomos complexos se dispersam pelo
espaço, juntando-se as nuvens de gás no universo como partículas de poeira. As
estrelas oriundas destas nuvens são chamadas de estrelas de segunda geração
como o Sol.
O
processo de formação de elementos até o Ferro
É que
existem outros processos, além da captura de núcleos de hélio. O mais freqüente
é a captura de nêutrons. Quando a estrela alcança uma pressão bem avantajada, o
ferro-56 pode capturar 03 nêutrons e virar ferro-59. Esse ferro-59, com 26
prótons e 33 nêutrons, é instável, com meia-vida de apenas um mês. Ele emite
uma partícula beta (elétron) e vira cobalto-59, com 27 prótons e 22 nêutrons.
Estrutura estelar onde ocorrem as reações conforme a massa do astro
Esse
processo de captura de nêutrons pode prosseguir até chegar ao bismuto-209. O processo
todo leva anos para se completar e, por essa razão, é chamado de "processo
lento de captura de nêutrons", ou, simplesmente, "processo-s",
onde a letra "s" significa slow. Mas, esse processo lento só consegue
produzir elementos até o bismuto-209.
O
"ciclo próton-próton", de formação de elementos, que é o mais
simples, se equivale ao que ocorreu logo após o Big Bang. O mesmo processo pode
acontecer no interior de uma estrela, desde que a temperatura lá dentro
ultrapasse 107 K e a pressão seja bem alta. A reação inicial é a
seguinte:
1H1 + 1H1
---> 2D1 + e + + n + energia
Em bom
português: dois núcleos de hidrogênio (prótons) reagem entre si formando um
núcleo de deutério, liberando um pósitron (anti elétron com carga positiva), um
neutrino e um bocado de energia. O pósitron criado logo se junta a algum
elétron que esteja por perto (sempre tem um bocado deles) e os dois se
aniquilam mutuamente em um festival de radiação de alta energia. O neutrino vai
embora e não tem quem o segure, pois ele não interage com ninguém. Esse
neutrino é um personagem curioso, que fez parte de uma narrativa nos primeiros tomos, na
chamada matéria escura.
Só o
deutério sobrevive e irá participar de outras reações, do que no final dessas
reações, surge o hélio-4, núcleo muito estável, com dois prótons e dois
nêutrons, nossa conhecida partícula alfa. A enorme energia gerada nessas
reações serve para contrabalançar a gravidade que tenta, sem cessar, esmagar
todo o material da estrela.
Quando o
hélio começa a predominar sobre o hidrogênio, a estrela começa a esfriar por
falta de combustível. A parte central se contrai e a pressão aumenta. Esse
aumento de pressão possibilita o surgimento de outros tipos de reação, com a
produção de outros núcleos. A reação inicial desse novo processo é:
4He2+ 4He2
---> 8Be4 + energia
Formam-se
núcleos do elemento berílio-8 e a energia produzida volta a aquecer a estrela
até uns 108 K. Como eu já disse, esse berílio-8 é extremamente
instável e logo decai. Mas, no centro das estrelas a densidade é tão grande que
muitos núcleos de berílio-8, antes de decaírem, conseguem reagir com os
abundantes núcleos de hélio-4, formando o carbono-12:
8Be4 + 4He2
---> 12C6 + energia
Por
simplicidade, podemos descrever essa síntese do carbono-12 como a junção de 03
núcleos de hélio-4. Esse tipo de mecanismo é chamado de "processo
alfa", por razões óbvias. O processo alfa, caracterizado pela captura de
núcleos de hélio-4, pode prosseguir desde que a temperatura no centro da estrela
seja suficientemente alta. A seguir, forma-se o oxigênio-16:
12C6 + 4He2
---> 16O8 + energia
Prosseguindo
desse modo, aparecem o neon-20, o magnésio-24 e o silício-28. Note que as
massas desses elementos pulam de 04 em 04, evidenciando que, em cada processo,
um núcleo de hélio-4 é incorporado. Os núcleos de elementos com massas
intermediárias são produzidos por outros tipos de reação, o mais comum sendo a
captura de nêutrons, prótons ou núcleos de deutério. No entanto, como o
processo alfa de captura de hélio é mais freqüente, já que existe muito hélio
disponível na estrela, os elementos cuja massa é divisível por 04 são mais
abundantes que os outros, como vemos no gráfico:
O
processo de criação prossegue como descrito acima até formar o ferro-56. O
núcleo de ferro-56 tem 26 prótons e 30 nêutrons, fortemente ligados uns aos
outros. Na verdade, o 56Fe26 tem o núcleo mais estável de todos os núcleos
conhecidos. Essa alta estabilidade é representada no gráfico abaixo que mostra
a energia de ligação por partícula nos núcleos naturais. O ferro ocupa a
posição mais alta do gráfico.
O
ferro-56 é tão estável que se recusa a fundir com outros núcleos para formar
elementos mais pesados. Como vimos antes, a fusão de elementos leves produz
energia. A fusão do ferro com qualquer outro núcleo consome energia, pois
resulta em núcleos com menor energia de ligação, a partir deste ponto o
processo de fusão cessa, e se a estrela não for massiva estes elemento ficarão
confinados em um núcleo compacto do que restar da estrela mesmo se esta se
tornar uma gigante vermelha.
Síntese dos
elementos pesados do universo sendo pulverizados pelo universo
Como surgiram os elementos
pesados
Uma
estrela massiva, em sua vida normal, só consegue produzir núcleos de elementos
até o ferro-56. Mas, sabemos que elementos mais pesados existem. Como o zinco-64, o bromo-79, a prata-107 e o
ouro-197 sem esquecer nosso mais pesado elemento natural o urânio-238.
Portanto, ao atingir o ferro-56 o ciclo de produção de núcleos sofre uma parada. Não há energia suficiente para sintetizar os elementos mais pesados. A parte central da estrela vai ficando cada vez mais rica em ferro e outros metais parecidos. Esse cerne metálico vai gradualmente resfriando a estrela e o equilíbrio com a gravidade começa a falhar. A estrela entra em colapso. A figura ao lado representa, grosseiramente, a situação da estrela nesse estágio.
Portanto, ao atingir o ferro-56 o ciclo de produção de núcleos sofre uma parada. Não há energia suficiente para sintetizar os elementos mais pesados. A parte central da estrela vai ficando cada vez mais rica em ferro e outros metais parecidos. Esse cerne metálico vai gradualmente resfriando a estrela e o equilíbrio com a gravidade começa a falhar. A estrela entra em colapso. A figura ao lado representa, grosseiramente, a situação da estrela nesse estágio.
A
estrela antes do final da vida antes da grande explosão a estrela lembra uma cebola
com diversas camadas formadas por elementos diferenciados.
Os
elementos mais pesados são produzidos por outro processo, o
"processo-r", onde o "r" significa rápido. Trata-se de um
tipo de captura de nêutrons que só pode ocorrer em condições super especiais,
nos momentos finais da vida da estrela, se ela tiver uma massa bem superior à
massa do Sol. Depois que todos os processos descritos acima, inclusive o lento,
se esgotam, a estrela não tem mais como segurar o tremendo arrocho da
gravidade.
A massa toda se contrai rapidamente e a densidade no miolo da
estrela cresce tanto que os elétrons são absorvidos pelos prótons, produzindo
nêutrons e neutrinos, muitos neutrinos. A estrela vira uma enorme bola de
nêutrons com densidade semelhante à densidade no interior de um núcleo atômico.
Nesse ponto, a estrela explode espetacularmente como uma supernova.
Supernova.
Na
explosão tipo supernova em poucos minutos é que se formam os elementos mais
pesados, inclusive o urânio-238. Como esse tipo de evento é relativamente raro,
não é de admirar que os elementos mais pesados sejam tão pouco abundantes.
Depois que a estrela explode como uma supernova, seu material se espalha pelo
espaço na forma de enormes nuvens e, eventualmente, chega às outras estrelas e
aos planetas, como a Terra, por exemplo.
Formam-se
depois do evento, grandes nuvens de poeira e gás interestelar, que formarão a
partir de agora, sistemas estelares e tudo o mais que conhecemos.
Os elementos químicos que formam
o universo
Um
elemento químico, como o hidrogênio, o carbono ou o ferro, é identificado por
seu número atômico, que diz quantos prótons existem em seu núcleo. A tabela
periódica, invenção do incrível russo Mendeleyev, organiza esses elementos por
suas características químicas. Elementos além do número atômico 93 não são
naturais, mas podem ser fabricados em aceleradores.
Dos
elementos naturais, só uns poucos são realmente abundantes no universo. A
maioria é muito rara.
Veja, na figura abaixo, um gráfico da
abundância dos elementos no universo. Um gráfico como esse é o resultado de
anos e anos de observações, utilizando técnicas variadas e muita criatividade.
Algumas
coisas devem ser entendidas nesse gráfico. Primeiro só são mostrados as
abundâncias dos elementos até o número atômico 35. Daí em diante, a quantidade
de elementos encontrados na natureza é tão pequena que nem precisa ser
mostrada.
E mais: a barra vertical do gráfico está em escala logarítmica. Observe, por exemplo, que o hidrogênio é 10.000 (104) vezes mais abundantes que o carbono no universo. Finalmente: a abundância de cada elemento está descrita em relação à abundância do silício. Por exemplo, para cada milhão (106) de átomos de Si, existem 10 milhões (107) átomos de carbono.
E mais: a barra vertical do gráfico está em escala logarítmica. Observe, por exemplo, que o hidrogênio é 10.000 (104) vezes mais abundantes que o carbono no universo. Finalmente: a abundância de cada elemento está descrita em relação à abundância do silício. Por exemplo, para cada milhão (106) de átomos de Si, existem 10 milhões (107) átomos de carbono.
O
elemento mais abundante é exatamente o mais leve e simples, de todos o
hidrogênio (1H1), com apenas um próton em seu núcleo. A seguir, vem o hélio
(4He2), com 2 prótons e 2 nêutrons no núcleo. Esses dois elementos são tão
abundantes que, apesar de serem os mais leves, 98% da massa do universo é feita
deles. Desses, 73% são de hidrogênio e 25% de hélio.
O resto é
só 2% mas é claro que é muito importante. Afinal, nós somos feitos de carbono,
oxigênio, cálcio, ferro etc.
HIPERNOVAS
No
universo temos eventos catastróficos como às supernovas que são como uma
miniatura do Big Bang, ofuscando uma galáxia inteira com sua luminosidade,
deixando para trás sempre um marco de sua presença como uma estrela de nêutrons
ou um buraco negro. As explosões chamadas como hipernovas tem um poder tão
intenso que possivelmente não deixa nenhum resquício de seu pretérito ao
vaporizar o núcleo estelar.
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